Márcia Scherer (*)
Intervenção federal ou global?
"O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Realmente não é bobo o suficiente para acreditar que a Vênus Platinada manipula nossas vidas, como se fossemos meros marionetes. Isso é um exagero. Mas tirando os exageros das militâncias, há, sim, uma intervenção global no nosso cotidiano, seja para ditar uma tendência, vender alguma marca e até mesmo para atrapalhar a imagem de um político.
O que vem depois disso, as consequências, é fruto da oportunidade. Se o camelô vende um monte de pulseirinha, se a marca tal vira líder de preferência, mesmo não comprando espaço publicitário na emissora, se o partido tal coloca um nome de peso para a disputa, se o governo Federal resolve fazer intervenção na segurança do Rio, tudo isso é fruto de quem enxergou na linha editorial da Globo uma oportunidade.
Não vou falar da Dilma (foi golpe rs), vou falar do Crivella. Mas antes preciso deixar claro que, apesar de conhecer pouquíssimo sobre ele e sua administração, não o apoio, não justifico suas ações e posições, sou totalmente contrária a ele.
Acompanhando as transmissões do carnaval carioca, foi fácil perceber a campanha da Globo contra o prefeito Crivella. A citação constante de que ele não estava na cidade em pleno carnaval, o sensacionalismo na divulgação das notícias sobre a "onda" de violência. O tom das matérias demonstrava a clara intenção de jogar em seu colo a responsabilidade exclusiva pelo caos no Rio. Ok, vou ser justa, também respingou no Pezão, o governador do Rio.
Porém, parece que a realidade da onda de violência não é bem aquela que Globo divulgou, segundo números divulgados pela Secretaria de Segurança, dezesseis dos 27 indicadores de violência do Rio recuaram durante o Carnaval 2018, na comparação com o mesmo período de 2017.
Vi postagens de amigos que passaram o carnaval no Rio, todas de muita alegria, em blocos, nenhum relato de passar ou presenciar qualquer situação de violência. Pausa para esclarecer que não estou negando a violência no Rio, só estou dizendo que, aparentemente, o quadro não é tão feio quanto a Globo o pintou.
E diante desta pintura, os temerosos aproveitadores aparecem.
Com a reforma da Previdência indo pras cucuias, e na eminência de uma vergonhosa derrota, que nem o apoio da Globo reverteria, o governo federal teve a brilhante ideia de decretar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, dando o comando das forças de segurança locais ao Exército.
Com isso, mata vários coelhinhos numa única paulada: evita a derrota na reforma da previdência, tira o foco do chefe da Polícia Federal que é suspeito de proteger o presidente, vira protagonista positivo numa situação de emergência, ganha um certo fôlego das críticas e mostra que tem poder sobre o Congresso Nacional, aprovando, quase que por unanimidade, o tal decreto (é só aparência). Não duvido nada que até a popularidade do Temer suba um pouquinho.
A Globo queria, tinha a intenção, combinou, a intervenção federal? Eu, sinceramente, acho que não tinha intenção no fato. Não acredito que a emissora tenha um departamento de planos maléficos, com estratégias traçadas e objetivos específicos. Mas que ela provocou, esperando que algo acontecesse, sim provocou. Isto está muito claro.
A Globo tem uma linha editorial que navega pela política, pela moda, pelo comportamento, pela ideologia? Claro que tem, todas têm. E essa linha é muito clara, indisfarçável. Dá pra saber quem ela quer prefeito, governador, presidente. Dá pra saber qual religião tem seu apoio e qual é demonizada (desculpe o trocadilho). Dá pra saber até mesmo qual a forma de pensar que ela defende.
Isso significa que ela convence a tudo e a todos, que ela manipula o cérebro das pessoas a ponto de transformá-las em meros marionetes? Não, claro que não, seu poder de convencimento, de manipulação, é limitado. Se não fosse assim, Lula não seria presidente, Crivella não seria prefeito, religiões evangélicas não teriam crescido exponencialmente.
Mas e os patos da FIESP? Como disse lá em cima, a Globo é "vítima" dos oportunistas de plantão. Assim foi com as manifestações contra o PT e assim é com a intervenção federal na segurança pública do Rio. Ela faz a cama, mas quem deita e rola são outros, que podem até ter sua simpatia e ser do mesmo grupo, mas que não faziam parte dos seus planos originais, ainda que depois tenham total aprovação global.
Bom agora deixa eu ir lá assistir TV, não a Globo. Vou assistir ao GNT, não péra, é do grupo, então vou de Multishow, ops, do grupo também, vou pras notícias, na Globonews, Globo. Vou assistir SportTV, Globo. Viva, Globo. Biz, Globo. Viu, como o povo não é bobo?
(*Marcia Scherer é publicitária, especialista em marketing político e sócia do Bureau de Planejamento em Campo Grande)
Deixe seu comentário
Postado por: Márcia Scherer (*), 22 Fevereiro 2018 às 10:15 - em: Falando Nisso