Roberta Varela Trad (*)
Felicidade...
Hoje vi uma cena dessas que marcam a gente... Nada de estrondoso espetáculo, mas algo sublime em sua essência.
Estava em um parque da cidade quando vi um bebê sendo empurrado pela mãe em seu carrinho.. O que achei diferente e delicioso de se ver foi o rosto de satisfação daquele menininho vendo o Mundo! Se deliciava com cada nova aparição, com o vento no rosto, com as cores que o cercava.
E... Fiquei me perguntando porque aquela cena tinha me atraído tando, procurei “nas gavetas onde guardamos nossos pensamentos” e cheguei a outra cena, do dia anterior..
Eu estava em um avião, e assim que pousamos antes mesmo da liberação, 95% dos passageiros retiraram rapidamente seus celulares de onde estavam e avidamente os ligaram, verificaram, olharam, sondaram, mandaram mensagens, ligaram... Freneticamente..Compulsivamente precisavam ser vistos e notados com urgência! Lá fora, uma vista linda, não vista.
Estamos escravos de nós mesmos.. Com o tempo vamos perdendo essa capacidade de nos maravilhar com o que nos cerca, e não enxergamos mais nada além do que nos aprisiona.
Será que nascemos originais e morremos cópias?
Para sermos aceitos deixamos nossa essência e entramos no círculo vicioso do agradar. Logicamente esperando ser recompensado. A recompensa vem em forma de aceitação social.
Achamos que FELICIDADE está em algo fora de nós mesmos, e a buscamos de maneira irresponsável traindo nosso caráter, nossas raízes, nosso Mundo.
De certa maneira nos acostumamos desde o nascimento que nossas angústias (e a primeira que experimentamos é ao nascer) serão rapidamente saciadas, e que esse cessar vem de fora, DO OUTRO (CHORAMOS DE FOME NOSSA MÃE NOS DÁ O ALIMENTO).. Se na fase em que nos vemos como indivíduos, com a liberdade de reconhecermos o Mundo, não o fazemos, estamos fadados a esperar sempre do OUTRO a felicidade e o aplacamento das angústias..
Está imposta aí a grande escravidão moral, intelectual, espiritual que uma pessoa pode viver.. Não podemos esperar que o Outro nos dê aquilo que precisamos, ou pior, que nos mostre as cores do Mundo.. Porque cada um vê e interpreta à sua maneira.. Imputamos culpa aos que não reconhecem nossas necessidades de sobrevivência, apontamos, reclamamos, como bebês esfomeados mal alimentados. E queremos nos proteger “sabendo de tudo”esquecendo que o não saber é o que torna a vida possível...
Não somos aquilo que pensamos ser, somos aquilo que lembramos e aquilo que não lembramos,somos as palavras ditas e as não ditas, somos os enganos que cometemos e os impulsos que nos escapam “sem querem”.
Talvez a felicidade seja olhar a vida com a descoberta de uma criança, sem esperar que outra pessoa preencha vazios ou sacie angústias..
A felicidade está não em momentos de festa, ou de regozijo, mas em reconhecer todos os sentimentos, vazios, necessidades que temos e arruma-los dentro de nós.
A procura no outro de preenchimento não está lá, mas sim dentro de cada um... Se procuramos algo é porque um dia perdemos, se perdemos já foi nosso.
“Poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons...”
(*Roberta Varela Trad é psicóloga, residente em Campo Grande-MS)
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Postado por: Roberta Varela Trad (*), 02 Junho 2012 às 10:45 - em: Falando Nisso