
'Estou apenas fazendo o meu trabalho'
Fiquei indignado com a prisão arbitrária do advogado Jeferson Baqueti, de Dourados, na última segunda-feira, dia 17, quando, no exercício rotineiro de sua atividade profissional, atendendo a um cliente numa ocorrência de trânsito, foi violentado de maneira truculenta por dois policiais militares.
Somente num País onde vigora o desrespeito às leis mais elementares é possível ver policiais agirem com tamanha truculência, atentando contra a prerrogativa de advogados, sem que isso tenha repercussão devida no seio da sociedade.
Nós advogados não podemos mais ser lenientes com estes fatos graves, verdadeiros atentados ao nosso arcabouço jurídico, aos nossos valores democráticos e aos nossos sentimentos mais sagrados.
O caso do Dr. Jeferson é emblemático não somente porque atenta contra o Estado Democrático de Direito, mas também porque revela com clareza o despreparo das forças de segurança pública. A polícia precisa ser preparada para agir sob a égide da legalidade. Por isso, cabe a pergunta: se policiais procedem dessa maneira com advogados imaginem o que eles fazem com cidadãos desprotegidos?
O fato evidencia a torpeza com que o exercício de nossa profissão vem sendo submetida diante das mais variadas esferas de poder. Ficamos à mercê de um autoritarismo incabível. Nos tempos modernos tal comportamento é inaceitável. Os advogados não podem mais trabalhar com medo de ser constrangidos pela ações de quem ainda não entendeu que somos peça importante a garantir os direitos fundamentais da cidadania.
Além disso, é importante mostrar que essa violência ocorre de maneira mais ou menos sutil em nosso dia a dia. O acontecimento em Dourados é apenas a faceta visível de um processo. Quem vivencia o exercício da advocacia diariamente sabe que enfrentamos os mais diversos tipos de arbitrariedade. Isso precisa ter fim.
Quem teve a oportunidade de assistir ao vídeo postado na internet da prisão do Dr. Jeferson Baqueti, no qual ele, depois de algemado brutalmente, dizia que “estou apenas fazendo meu trabalho”, deve ter se sentido ferido na alma pelo fato de que no Brasil os nossos direitos continuam a ser conspurcados sem que isso cause repúdio dos governos e instituições.
Não podemos mais permitir que isso continue.
(*Mansour Elias Karmouche é advogado e vice-presidente da OAB-MS)
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Postado por: Mansour Karmouche (*), 18 Agosto 2015 às 15:30 - em: Falando Nisso