Wagner Cordeiro Chagas (*)
Eleições de 1998 em MS e o fim de um ciclo político
No ano de 1998, Mato Grosso do Sul experimentava o último ano da segunda administração de Wilson Barbosa Martins (PMDB). Esta gestão tinha características muito diferentes da primeira vez em que ele governou o estado, entre 1983 e 1986. O segundo governo Wilson foi marcado por dificuldades econômicas, pois foi preciso arrochar as finanças para quitar dívidas herdadas da administração Pedro Pedrossian (PTB/1991-1994). Wilson Martins passou 2 anos e meio realizando reformas e economias, e somente a partir de agosto de 1997 pode investir em algumas obras. Como consequência disso, diversos setores do funcionalismo público estadual, como professores, policiais, médicos, servidores do poder Judiciário, recorreram à greves para lutar por salários em dia.
Em nível nacional, o Brasil era administrado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que implantava uma gestão baseada nos princípios neoliberais, tendo como marca maior a privatização de empresas estatais. O dragão da inflação já não era mais o problema número 1 do povo, no entanto, o desemprego e o tímido crescimento do PIB eram dificuldades enfrentadas pelo país naqueles tempos.
Foi sob esse contexto que ocorreu a campanha eleitoral de 1998 em Mato Grosso do Sul. Os levantamentos de pesquisa no início daquele ano sinalizavam que o estado repetiria a polarização política nascida em 1980, pois quem liderava era o ex-governador Pedro Pedrossian. O governador Wilson Martins que tinha direito de concorrer à reeleição, devido à Emenda Constitucional aprovada em 1997, optou por se aposentar da vida pública e indicou seu ex-secretário de Fazenda, Ricardo Bacha (PSDB), que se posicionava em segundo lugar. O PT indicou o então deputado estadual José Orcírio Miranda dos Santos, popular Zeca do PT, ex-lider sindical dos bancários de Campo Grande. O Prona concorreu com o servidor público Heitor de Oliveira.
Esta disputa pelo governo foi uma das mais surpreendentes da história do estado, pois em pouco tempo a campanha da coligação Muda MS, liderada por 3 partidos de centro-esquerda: PT, PDT e PPS, empolgou o eleitorado sul-mato-grossense. A surpresa se deu no primeiro turno, quando da abertura das urnas (algumas delas eletrônicas), revelou-se a chegada de Zeca do PT, que saiu da terceira colocação nas pesquisas e ultrapassou o popular líder Pedro Pedrossian. Em primeiro lugar havia ficado o candidato do governo, Ricardo Bacha.
A disputa no segundo turno entre Ricardo Bacha e Zeca do PT acirrou ainda mais a política estadual. Zeca obteve um apoio de peso a sua candidatura, de Pedro Pedrossian. Adesivos com a mensagem “Votei Pedro, agora sou Zeca” eram vistos em carros e casas por todo Mato Grosso do Sul. No entanto, o sentimento de mudança era o que mais havia contagiado a população, principalmente os servidores públicos estaduais. No segundo turno deu Zeca governador. Era a primeira vez que um cidadão oriundo do meio sindical, da classe trabalhadora (bancário), conquistava a chefia do poder Executivo por aqui. Esta eleição rompeu um ciclo que existia há 18 anos, qual seja a polarização entre Wilson Martins e Pedro Pedrossian à frente do governo.
Os deputados federais eleitos foram: Marisa Serrano e Marçal Filho, ambos do PSDB. O PT elegeu os primeiros deputados federais no estado: Ben-Hur Ferreira e João Grandão. Os demais foram: Waldemir Moka (PMDB), Flávio Derzi (PPB), Pedro Pedrossian Filho (PFL) e Nelson Trad (PTB).
Para deputado estadual elegeram-se: Londres Machado, Waldir Neves, Roberto Orro, Murilo Zauith, Flávio Kaiatt e Akira Otsubo, todos do PSDB. Do PMDB: Celina Jallad, Onevan de Matos, Antônio Braga e Nelito Câmara. Pelo PTB: Ary Rigo, Antônio Carlos Arroyo, Paulo Corrêa e Cícero de Souza. Do PDT: Loester Nunes, Pastor Reginaldo, Luizinho Tenório e José Monteiro. Pelo PFL: Jerson Domingos, Maurício Picarelli e Zé Teixeira. O PPS estreou com Sandro Fabi e Geraldo Resende. O PT encolheu na Assembleia Legislativa, e elegeu apenas Laerte Tetila.
Ao Senado foi escolhido o ex-prefeito de Campo Grande, Juvêncio César da Fonseca (PMDB), em disputa com Carmelino Rezende (PPS), Saulo Queiroz (PFL), Marcos Santos, o Bafo (Prona) e Marcos Monje (PSTU).
Para presidente da República foi reeleito Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Era a primeira vez que isso acontecia no Brasil.
(*Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD e professor em Fátima do Sul, pesquisa sobre história política de MS desde 2007 e é autor do livro “As eleições de 1982 em MS” - 2016)
Deixe seu comentário
Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 18 Setembro 2018 às 13:15 - em: Falando Nisso