Maria Angela Mirault (*)
E aí, Campo Grande: vai encarar?
De certo, que a História do Brasil registra - desde que aqui chegaram os primeiros degredados - um suceder-se de malfeitos e malfeitores nos desígnios do país. Há de se convir que o Brasil, antes de tudo, era um lugar que Portugal não queria descobrir: revelou-se aos invasores. Doou-se! Mas, seja por conta da calmaria, seja por conta de Cabral, de D. João, cá estamos, “descobertos”, “doadores”, mas, antes de tudo, “saqueados”! Primeiro, por um Portugal fugido de Napoleão. Um Portugal, cuja cumplicidade dos nativos, acostumou-nos a “vidinha ruim” a que nos acostumamos até hoje.
É fato que a nossa Proclamação de Independência não resultou de gesto heroico de seu ninguém... nossa Proclamação da República não foi uma brastemp... nossa participação na Tríplice Aliança - e os atos “heroicos” de um Caxias - um atentado de horror e carnificina... e, nossa emblemática Abolição da Escravatura; a mãozinha de um Ruy, que deu fim à papelada dos sequestrados da África...
Tudo bem, até aí?
Pois bem, o Brasil Republicano e Democrático, que tanto se alardeia hoje, nasceu da posse ilegítima – eu disse ILEGITIMA - de um José Sarney - benesse dos militares (lembram que o vitimado da diverticulite ainda não tinha tomado posse?). Acostumados àquela “vidinha ruim”, engolimos. Embora, talvez, até você, ainda acredite, tudo fruto das “diretas já”; do “dr-Ulysses”, etc e tal, tudo Mentira! Fruto de acordos por baixo das saias da República, Sarney foi um escárnio na República dos acostumados à “vidinha ruim”.
Collor, “o abençoado”, “o famigerado salvador da pátria”, “o caçador de marajás”, chegou, chegando; era a esperança de mudança, uma vez que o dono do vídeo cassete perdera (lembra?). Imagine, agora, você, que votou “nessa esperança”, senhor do seu juízo, depois de um mea culpa sincero, se um coronelzinho daqueles, com a promessa de caçar marajás, confiscando poupanças, seria capaz de honrar as calças e o governo? Depois das lambanças do (mau) finado PC, com PC, sem PC, Elba e Jardim da Dinda, remember, o posto de mandatário da República caiu no colo-do-Itamar. E dessa conjuntura da sorte (da bruxa má, diga-se de passagem) é que nasceu - nessa sucessão de mal entendidos, algumas tacadas, e, muita sorte - o douto FHC! Ah! FHC, “o sábio”, “o letrado”, “o acadêmico”. E o que fez, quando chegou ao poder da “corte”? Ah! “A mão do Estado é muito grande, quer tomar conta de tudo? A solução neoliberalizante: Privatização! “Mas, pra dar conta de tudo, o mandato de presidente é muito curto!” Reeleição, oras! E, de privataria em privataria, sucateamento estatal, e, de sua “adquirida” reeleição, fez e aconteceu em seus dois mandatos.
Foi nessa conjuntura, foi nessa incúria que se formou o caldo que ajudou a emergir uma (hoje, sabemos!) aparente força (do Bem), advindas da reação de quem já não estava querendo mais continuar a viver uma “vidinha ruim”. Das profundezas da nação, tão saqueada, surge e se viabiliza (2000) “O” salvador: Lula-lá. Eu acreditei. Você acreditou. Sua avó acreditou. Seu papagaio acreditou. O dono do vídeo cassete, namorado da míriam, chegaria para finalmente honrar as calças e os brasões da República. Seu primeiro mandato necessitou de acordos inimagináveis, com os marajás da República (capitaneado por quem? Sareny & Cia). Com sua “habilidade”, manteve a “governabilidade” e seu índice de aprovação nas alturas e conquistou seu segundo mandato, dando solo fértil ao já planejado Mensalão! A República aparelhada! Projeto de mais de vinte anos do, hoje, encarcerado, Zé Dirceu, em curso; o propinoduto a pleno vapor! Para manter os acordos, o “projeto de futuro”, a “roubalheira” e uma nova cor para “corrupção”, elegeu “O Poste”. O povo do yogurte, do apartheid das cotas, continuaria nas mãos do poder, acostumados e beneficiados; felizinhos com a “vidinha (já não tão) ruim”.
Do resto, da carcaça, da carniça; disto tudo, estamos “acordando” e vivendo, agora! Também nós – em mea culpa - que acreditamos no oposto ao douto, “no humilde”, “no ressurgente do povo”; “no operário, trabalhador”, como alternativa ao liberalismo rechaçado. Contudo, hoje, nós podemos atestar ao túmulo de Engls& Marx: Vocês erraram no quesito “classe trabalhadora no poder”!
Mas, e Campo Grande? Imersa em matagal, Aedes aegypti, “lama asfáltica” e afundada em buracos; com um colégio de vereadores que pode apagar a luz e entregar a chave ao porteiro?! Loteada, pobre Campo Grande, capitaneada na mão dos partidos, das igrejas, dos palhaços, encontra-se à deriva! De “pastor e ovelhas” - nada crentes nas Leis Soberanas de Deus - estamos nesse atoleiro, entregues aos donatários, acostumados à “vidinha ruim”. Elegemos prefeitos com conchavos de gabinetes muito longe das mesas e dos mesários eleitorais. Claro que a ajuda dos ignorantes, dos que se vendem, são sempre bem vindas. O fato é que temos elegido muito mal nossos representantes. Lembremo-nos, no entanto, que são “Eles”, os partidos políticos - que, ainda, projetam o futuro, em cima de perniciosos e velhos costumes - que já estão alvoraçados e escolhendo seus quadros. Logo estarão apresentando seu elenco, para as próximas eleições. Cuidado! Calma, lá!
Olhos muito abertos, Campo Grande, para essas capitanias e seus donatários. Toda atenção possível para quem serão seus “enviados”. Só que nós - os que não querem mais viver essa “vidinha ruim” - não queremos mais chocolates-de-Land-Rover. Não queremos mais, velhos cabeludos! Chega de palhaços! Acorde, Campo Grande! Reage, Campo Grande! Reviva, Campo Grande! Ou, vai continuar vivendo essa “vidinha ruim”, entregue nas mãos dos donatários, seus eleitos e reeleitos, outra vez?!
(*Maria Angela Coelho Mirault é professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com.br)
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Postado por: Maria Angela Mirault (*), 23 Março 2016 às 10:20 - em: Falando Nisso