E agora, Joe? Igor Macedo de Lucena (*)

E agora, Joe?

A democracia prevaleceu! Essa foi talvez a principal frase que o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou em seu discurso de início de mandato na semana passada. Isso significou que, apesar de todas as acusações infundadas de fraude, sem provas, o sistema eleitoral americano conseguiu eleger seu 46º presidente sem nenhuma interrupção do sistema democrático desde a independência do país, em 1776.
 
Sob um ponto de vista mais objetivo, o que representa o governo de Joe Biden em relação ao fim da administração do governo Trump? Em um primeiro momento, já se percebe o fim da política "America Frist", que, na prática, se mostrava uma política de isolamento das relações internacionais, reduzindo a política externa americana a uma política mercantilista atrelada a uma guerra comercial de tarifas no século XXI.
 
No contraponto a essa situação, o governo de Biden já deu sinais de que vai tentar recolocar os Estados Unidos no centro das disputas globais, com foco no multilateralismo e nas relações internacionais, retomando a política da "International Liberal Order" criada pelos americanos, há 70 anos. Em um de seus primeiros atos, Biden já anunciou o retorno ao acordo de Paris e já reverteu a saída do país da Organização Mundial da Saúde. Nos próximos meses deveremos ver novas indicações para a Organização Mundial do Comércio e a valorização de outros órgãos como as Nações Unidas e a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte.
 
Para o Brasil, isso significa que a atual política externa precisa de uma considerável mudança, tendo em vista que o Ministério de Relações Exteriores é contra o multilateralismo e não confia nos órgãos internacionais como a OMC e a ONU. Esse é um real problema para o Brasil, pois os principais polos de poder e finanças do mundo, os Estados Unidos, a União Europeia e a China, deverão se engajar fortemente em acordos internacionais de comércio e de investimento por meio do multilateralismo e das instituições internacionais daqui para frente. 
 
Sob o ponto de vista financeiro, isso significa que o Brasil, mesmo que não faça nada, deve ser beneficiado em um cenário externo positivo, pois tais acordos deverão impulsionar o consumo de commodities a partir do final de 2021 e no início de 2022, além do retorno das atividades econômicas com uma maior dispersão das vacinas e a possibilidade de abertura total de várias economias. Isso significa que a bolsa brasileira e a economia nacional deverão apresentar números bem positivos no segundo semestre deste ano. 
 
Por outro lado, o governo Biden deverá "forçar" o Brasil a mudar sua política relacionada à Amazônia e ao meio ambiente, exercendo uma pressão em conjunto com os Europeus. Essa pressão pode gerar maiores problemas para as exportações brasileiras, com a necessidade maiores exigências ou mais burocracia para acessar os mercados externos. Diante disso, governo brasileiro poderá até não concordar, contudo o futuro das relações comerciais americanas com o Brasil e principalmente o acordo entre o MERCOSUL e a União Europeia só deverão avançar positivamente havendo uma mudança drástica na política ambiental, que é criticada não apenas pela oposição de esquerda, mas também pelo setor bancário e agroindustrial brasileiro.
 
Neste contexto, vale ressaltar que o Governo Federal poderá adaptar-se a estes novos tempos, os quais são pautados pelo pragmatismo e pela seriedade nas relações internacionais. Exemplo anterior já existe, como ocorreu quando o governo brasileiro convocou o ex-presidente Michel Temer para liderar a missão de apoio ao Líbano. Afinal, os brasileiros são um povo de bem.
 
(*Igor Macedo de Lucena é economista e empresário de Fortaleza - CE, Doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política)


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Postado por: Igor Macedo de Lucena (*), 11 Fevereiro 2021 às 09:20 - em: Falando Nisso


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