
Dos tipos de morte
Um acontecimento que aflige o ser humano é a morte. Todos sabemos que vamos passar por ela, o que a torna indiscutível. O medo que ela causa já deveria ser devidamente entendido e aceito porque a morte é irreversível, além de ser o único fato previsível em nossas vidas. Todos sabemos disso, mas mesmo assim reagimos, cada um a seu modo. A morte é algo que podemos experimentar apenas indiretamente, no outro que morre, porque quando morrermos não iremos experimentá-la. Iremos vivê-la.
A qualquer momento, não sei quando, chegará a hora de partir para novas realizações no plano espiritual, de voltar para a pátria celestial, e ali assumir novas missões em função do nosso plantio aqui na Terra. É interessante observar que cada um de nós já morreu muitas vezes ao longo de outras encarnações. Então, no íntimo, já sabemos como é morrer. Não deveria causar ansiedade.
E com essa perspectiva natural e inevitável, comecei a conjecturar a respeito da morte, de sua finalidade e dos benefícios que proporciona – embora para uma grande maioria que não consegue alcançar esse entendimento, ela seja um castigo – e suas consequências.
Em vez de tristeza, ansiedade e desesperança, deveríamos aceitar a morte como um dado perfeitamente natural da vida. E, para isso acontecer, é preciso que se fale da morte, e não que se usem palavras ou expressões substitutas que amenizem o seu significado. Isso significa admitir que, assim como outros processos – como o nascimento –, a morte é um estágio da vida, o qual sabemos que virá implacavelmente para todos.
Entender essa situação como natural, e aceitá-la, representa uma libertação. Não há necessidade de temer a morte. Ela vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. É uma certeza absoluta: 100% das pessoas morrem. De nada adiantam os avanços tecnológicos. É uma regra que não tem exceção. Aceitá-la é uma questão de inteligência. Daí a importância de aproveitarmos a nossa encarnação enquanto aqui estivermos. E quando a nossa hora chegar, aceitemos com serenidade. E isso deve estar baseado na preservação consciente da vida, e não no medo de morrer.
A morte pode ser classificada de várias formas, seja por sua natureza (natural ou violenta), por sua causa (doença, acidente, suicídio, homicídio), ou por seu contexto jurídico (morte real, morte presumida, morte civil). Além disso, existem termos específicos que se referem a diferentes modos de morte, como distanásia, ortotanásia, mistanásia, suicídio assistido e eutanásia. Isso, se consideramos apenas a morte física.
O que vejo, em geral, é que alguns morrem em vida, o que é diferente da morte em si, e isso é fruto de nossas ações. Uma pessoa morre, por exemplo, quando deliberadamente decide pelo erro, pelo crime, pela corrupção, o que constitui um suicídio moral, pois é a renúncia à sua divindade, à própria vida, para submeter-se à ilusão e ao efêmero. Morre pelo livre arbítrio, ao pender para uma escolha negativa. A colheita gerada pela semeadura de nossos atos é inevitável. É a morte moral.
Mas não vale a pena sofrer por antecipação; o limite da coragem é a prudência (“Acredite, a liberdade é a consciência do limite”, parafraseando o compositor Jorge Mautner).
De um modo geral, quando falamos da morte pensamos na morte física do corpo, o que acaba provocando temor e sofrimento.
Em suma, há dois tipos de morte: a física, quando ocorre a separação do corpo e da alma, e a espiritual, considerada como a separação da pessoa de Deus. A primeira nos transporta para o mundo espiritual, onde seremos destinados ao lugar para onde nossas ações apontaram. A segunda é a morte moral, metafísica, na qual, mesmo encarnados, nosso comportamento traz consequências que “matam” nossa existência sadia.
Há, ainda, uma terceira forma de morte, causada pela invisibilidade social, quando as pessoas deixadas à margem passam a ser invisíveis para seus pares, provocando um sentimento de abandono para quem se tornou “invisível”.
Segundo Sócrates, o grande filósofo, “ninguém sabe o que é a morte, nem se, por- ventura, ela será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber o que não se sabe?”
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 17 Maio 2025 às 10:00 - em: Falando Nisso