Heitor Freire (*)
Don
No dia 21 de novembro, fui agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem do Mérito do Estado de Mato Grosso do Sul. Ao receber essa honraria, fui pesquisar o que significava e as prerrogativas inerentes a esse título.
A Ordem do Mérito foi criada pelo Decreto de nº 483, de 13 de março de 1980, do governador Marcelo Miranda, e esteve hibernada por longo tempo, recebendo nova redação pelo Decreto nº 15.611, de 22 de fevereiro de 2021, do governador Reinaldo Azambuja.
O grau de Cavaleiro é um título honorífico concedido às pessoas que ganharam o respeito da comunidade, por relevantes serviços prestados. Tem origem nas ordens reais, seculares, religiosas, monásticas e nobiliárquicas, como, por exemplo, os Cavaleiros Templários, da Ordem do Templo.
Fui investido no grau em cerimônia solene realizada no auditório do Bioparque, que se revestiu de um ato carregado de forte simbolismo. Na Idade Média, a cavalaria era uma instituição dotada de um código de honra próprio, que regulava não somente a arte da guerra, mas também a conduta social. Sendo modernamente esta última a condição necessária para sua outorga.
“Como vivemos num regime republicano, não há nomenclatura específica para os agraciados”, segundo o presidente do Tribunal de Justiça, dr. Carlos Eduardo Contar, que é autoridade no assunto e integra a Ordem do Mérito, como Conselheiro: “Na monarquia inglesa, poderia ser Sir, e na espanhola Don”.
Só para ilustrar, meu pai era chamado de Don Luiz.
Don em espanhol, Dom em português.
Assim, como sou de origem espanhola, me outorgo o tratamento de Dom. Espelhando-me no cavaleiro andante, Don Quijote de la Mancha, de Cervantes. Aproveitando a deixa para enaltecer essa figura mítica, enigmática, mitológica que povoa o inconsciente coletivo e que tanta discussão filosófica, espiritual, religiosa e psicanalítica suscitou, e continua suscitando com seu comportamento sonhador e idealista.
Com o passar do tempo, entendi que o personagem é muito mais que um louco sonhador. A obra é um ensinamento sobre como é possível, sem deixar de respeitar as regras e as leis criadas pela civilização, lutar diariamente, nas pequenas e grandes coisas, contra as injustiças, a intolerância, os preconceitos, sem abdicar e sem negar a ambiguidade, as fraquezas, as ambições, os desejos e os delírios do ser humano.
“A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Com ela não podem igualar-se os tesouros que a terra encerra nem que o mar cobre; pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pôde vir aos homens.”
É de se ressaltar também o comportamento de seu fiel escudeiro, Sancho Pança, que, apesar de todas as falhas observadas, se mantém fiel até o fim, com respeito, amizade e lealdade, qualidades que são raras no cotidiano daquela época e de sempre. Don Quijote é derrotado, espancado, vencido inúmeras vezes, sendo batizado de “Cavaleiro de Triste Figura”, mas sempre se recupera e insiste nos seus objetivos.
Particularmente, para mim, o seu comportamento é fonte de constante inspiração e exemplo de perseverança, de trabalho, de continuidade na busca pelo ideal.
Salve Don Quijote de la Mancha!!!
Assim, e por isso, assumo meu tratamento de Don, como Cavaleiro da Ordem do Mérito!
Don Heitor Rodrigues Freire – Cavaleiro da Ordem do Mérito de MS
(*Heitor Rodrigues Freire é advogado e corretor de imóveis)
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Postado por: Heitor Freire (*), 03 Dezembro 2022 às 08:00 - em: Falando Nisso