Heitor Freire (*)
Do jeito de viver
Aprendi que a criação de Deus é uma dádiva que deve ser glorificada para sempre, pois representa o pensamento Dele em relação a tudo o que criou. E a maior bênção, sem dúvida, é a criação do ser humano à sua imagem e semelhança, para que seja um elemento útil no trabalho cósmico a ele destinado.
Assim, a nossa encarnação é um fato divino que deve merecer gratidão eterna por parte de cada um de nós. Não somos apenas o resultado de um espermatozóide que fecundou um óvulo, por acaso. Somos mais do que isso; somos seres imaginados por Deus.
Daí a necessidade do despertar da consciência para essa realidade, e a partir daí contribuirmos efetivamente com a nossa inteligência e vontade para a evolução da humanidade. No universo nada é de graça; toda concessão implica uma retribuição. O privilégio de existir exige uma contrapartida que se realiza pelo trabalho. A lei de Deus é a Lei do Trabalho que se manifesta em todo o Universo e por toda a eternidade.
Deus nos concedeu o dom da vida. E, naturalmente, Ele espera que cada um faça a sua parte. Ele não faz discriminação de pessoas, dá igualmente a todos. Se a pessoa não retribuir pela oportunidade, Ele simplesmente troca. Isso acontece com todos, embora quase sempre as pessoas não se deem conta disso, independentemente da posição e grandeza de cada uma.
A Bíblia nos dá alguns exemplos. No Antigo Testamento, Esaú, filho de Isaac, recebeu a primogenitura no nascimento juntamente com seu irmão gêmeo, Jacó. Naquela tradição, ao filho mais velho conferia-se um status especial. No entanto, Esaú vendeu o privilégio da primogenitura para o irmão por um prato de lentilha, perdendo assim a oportunidade de liderar seu povo, ao longo da história (Gênesis 25:29-34).
Há na Bíblia um outro exemplo marcante pelo personagem envolvido, pelo trabalho realizado ao longo de anos de vicissitudes, sacrifícios imensos, dedicação e fidelidade, que não foram suficientes para merecer o privilégio de entrar na Terra Prometida. Refiro-me a Moisés, que no episódio da fonte de Meribá, quando duvidou que Deus pudesse fazer jorrar água de uma pedra (“Para Deus nada é impossível” – Lucas 1:37), vacilou, perdendo a oportunidade de continuar liderando o povo hebreu, e deixou de receber o grande prêmio, entrar na Terra Prometida, sendo sucedido por Josué (Números 20:7-12).
No Novo Testamento há o exemplo da parábola dos talentos, na qual Jesus mostra de forma muito clara a responsabilidade de cada um com os talentos de que foi dotado (Mateus 25:14-30). A parábola conta a história de um homem que viajou para o estrangeiro. Como era possuidor de grande fortuna, chamou seus empregados para administrar seus bens, na sua ausência. A um deles, deu cinco talentos a outro dois e ao último, um talento. Quando voltou, depois de muito tempo, chamou os empregados para que prestassem contas do trabalho de cada um. O de cinco talentos disse que ganhou mais cinco, o de dois, ganhou mais dois, ambos merecedores da gratidão do patrão. O de um talento disse que tinha medo do patrão, e por isso enterrou o seu talento para devolvê-lo intacto, então admoestado por ser um servo inútil.
Seja qual for a interpretação, nenhuma delas pode ignorar que o grande significado da parábola dos talentos enfatiza o princípio de que cada um recebe dons e oportunidades. O servo fiel é aquele que, independentemente da quantidade de talentos recebida, age com responsabilidade e diligência. O servo fiel valoriza os bens do seu senhor. A parábola ensina também que devemos multiplicar o que Deus nos dá. Ao recebermos os talentos, em gratidão a Deus por ter depositado em nós tamanha confiança, devemos aperfeiçoá-los a fim de que sejam úteis para a expansão da humanidade.
Assim, aprendi que não existe aposentadoria. O trabalho é permanente. E é justamente o trabalho que nos permite desenvolver nossa inteligência e aplicar nossos talentos.
Quem não aplica seus talentos acaba empobrecendo sua própria vida. A verdadeira pobreza é um estado mental de carência e falta de entendimento do que representa sua encarnação. Da mesma forma, a verdadeira riqueza também decorre de um estado mental de abundância, quando nos colocamos em harmonia com as leis da Natureza. O mesmo se dá com a nossa saúde.
Nós temos liberdade de consciência, ou seja, cabe-nos buscar o entendimento para aplicação do conhecimento ou não. Cada um vai receber de acordo com sua semeadura, que é livre, mas a colheita é obrigatória.
O que acabo de escrever é fruto do meu entendimento, e naturalmente vale para mim, mas como sou praticante da Lei de Uso (“O conhecimento e a riqueza devem circular”), encaro a escrita como uma forma de contribuição.
Daí que o jeito de viver depende de cada um.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 24 Junho 2023 às 09:10 - em: Falando Nisso