Do espelho Heitor Freire (*)

Do espelho

“A tua intenção oculta, 
aquela que não transparece em tuas atitudes, 
é a tua identidade verdadeira”.
(Irmão José, in Vigiai e Orai)
 
O espelho é um objeto tão presente em nossas vidas que muitas vezes não nos damos conta do que ele realmente representa.
 
Tudo indica que a primeira vez que o homem viu seu próprio reflexo foi na água. Esse acontecimento foi além da mera observação da imagem refletida, porque ao fazer isso, o homem teve sua atenção despertada para si mesmo, começando assim o longo e eterno processo de autoconhecimento, agregando aos poucos outros componentes que acabaram determinando o reconhecimento de sua própria identidade.
 
Desde então, a compreensão de si mesmo e a própria evolução podem ter provocado a criação do espelho, que segundo dados históricos da internet, aconteceu por volta de 3.000 a. C, quando povos da antiga Pérsia, atual Irã, passaram a usar poeira para polir metais e pedras. Esses espelhos refletiam apenas contornos e formas.
 
O primeiro espelho como conhecemos hoje surgiu em meados de 1830, criado pelo químico alemão Justus von Liebig. A mistura criada por ele continha nitrato de prata para garantir um bom reflexo. Daí em diante, o objeto se aperfeiçoou e vimos uma grande evolução quanto aos formatos e sua finalidade.
 
Ter um espelho em casa faz parte da vida de todas as pessoas. Mais do que isso, é através dele que conseguimos construir um olhar sobre nós mesmos e uma ligação profunda com nosso poder pessoal.
 
Filosoficamente, o espelho é um símbolo de pureza, verdade e sinceridade. O espelho é também um sinal de sabedoria, conhecimento e iluminação nas tradições orientais, e é considerado um portal para a espiritualidade.
 
Pesquisando sobre o tema, encontrei um texto de Arnold Patent (1929-2023), advogado e filósofo americano que elencou 19 princípios universais que, segundo ele, são as diretrizes que governam nossas vidas perfeitamente. Dentre esses itens, o de número 9 é o princípio do espelho, assim enunciado: 
 
“Tudo o que vemos e sentimos é um reflexo do estado da nossa própria consciência. Cada pessoa que atraímos para nossas vidas está nos mostrando uma percepção que temos sobre nós mesmos. Cada sentimento expresso por outro espelha um sentimento profundo dentro de nós. Este reflexo é um presente, pois nos permite estar cientes das crenças que temos e das maneiras pelas quais bloqueamos o livre fluxo do Amor Divino através de nós”.
 
Já na Europa, Jaques Lacan (1901-1981), médico, psiquiatra e psicanalista francês, formulou algo relativamente parecido, a teoria dos espelhos, composta de quatro leis: 
 
“Tudo o que você vê no outro, existe dentro de você.
O que você odeia no outro, você odeia em si mesmo.
O que você admira no outro, existe dentro de você.
O que você ignora no outro, é algo que você ignora em si mesmo”.
 
O espelho, assim, se constitui em mais uma ferramenta para o nosso autoconhecimento, proporcionando meios para a introspecção e o estudo íntimo, que bem utilizados podem nos ajudar a desvendar o nosso verdadeiro ser, porque a maioria de nós vive de aparências, ocultando nossas verdadeiras intenções, como bem ensinou o Irmão José, na citação de abertura deste artigo.
 
Para concluir, um ensinamento do apóstolo Tiago, reforçando a importância do cumprimento da palavra o que, desde sempre, é a orientação verdadeira:
 
“Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que se vê no espelho, mas, depois de olhar para si mesmo, sai e se esquece da sua aparência”. (Tiago 1:23-24)
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


Deixe seu comentário


Postado por: Heitor Freire (*), 10 Agosto 2024 às 09:00 - em: Falando Nisso


MAIS LIDAS