Heitor Freire (*)
Do desperdício
O desperdício é um mal que corrói por dentro, como um câncer silencioso que vai minando as defesas do organismo, e quando nos damos conta não tem mais jeito. Mas, na verdade, o desperdício tem jeito, sim. É preciso que as pessoas se conscientizem sobre seus malefícios e aprendam a maneira correta de combatê-lo, o que convenhamos, é uma tarefa incessante para todas as gerações que existem e para as que ainda hão de vir.
O Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo, mas infelizmente também é um dos países com o maior índice de desperdício. De acordo com dados do IBGE, cerca de 30% dos alimentos produzidos no país acabam sendo jogados fora, o equivalente a cerca de 46 milhões de toneladas por ano.
Isso representa uma perda significativa tanto em termos econômicos, já que o desperdício de alimentos no Brasil é estimado em 61,3 bilhões de reais por ano, quanto em termos ambientais e sociais, colocando o Brasil na 10ª posição no ranking de países que mais desperdiçam comida, segundo dados da ONU.
O desperdício pode se manifestar de várias formas: ao não aproveitarmos os alimentos como deveríamos desde o preparo até o descarte dos restos de um prato não consumido, temos também o desperdício de água, além de despesas exageradas e sem controle, e o esbanjamento com gastos inúteis. O desperdício de alimentos é um fator potencializador da insegurança alimentar e da fome no mundo.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o desperdício é o gatilho que impacta negativamente o meio ambiente na cadeia de produção de alimentos, com o uso intensivo e a poluição do solo e dos recursos hídricos, a perda de biodiversidade, e as emissões de gases de efeito estufa, agravando, também, o aquecimento global. São essas as drásticas consequências que testemunhamos hoje em todo o planeta.
No campo da indústria há oito tipos mais comuns de desperdício: a superprodução, o defeito de fábrica, o excesso de estoque, as atividades desnecessárias, o transporte super dimensionado, as longas esperas, a movimentação desnecessária e o capital humano mal aproveitado.
No relatório Índice de Desperdício de Alimentos 2021, produzido e publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente, seus autores Clementine O’Connor e Tom Quested se dedicaram a mostrar ao mundo o que podemos fazer para acabar com o flagelo do desperdício de alimentos: compre apenas o que você precisa, e se puder, compre alimentos frescos regularmente e reabasteça quando necessário, e use tudo o que você comprar. Cozinhe criativamente com as sobras: muitas receitas são flexíveis o suficiente para absorver quaisquer vegetais murchando no fundo da sua geladeira.
No meu entendimento, só tem um jeito: tomar consciência. Depende de cada um. É assim que tudo começa e continua. Ou mudamos ou submergiremos.
Rosaria, minha mulher, que é uma pessoa muito diligente e atenta para qualquer tipo de desperdício, tem sido uma militante atenta e exemplar na sua luta constante contra esse mal. Quando vai ao supermercado, ela leva as sacolas de plástico que tem em casa e não aceita sacolas novas. E faz do seu comportamento um alerta constante para nossas filhas e também para nossos amigos. É uma militante autêntica e consciente do seu papel. Ela aproveita muito bem a comida que compramos, e sempre reaproveita o que sobra na geladeira, de forma criativa e surpreendente. O reaproveitamento se tornou uma declaração de princípios na vida dela, que também reaproveita roupas, móveis e tudo o que puder ser reutilizado e ganhar uma sobrevida. Essas atitudes têm se tornado um exemplo para toda a nossa família.
Para finalizar, deixo uma frase do cientista e astrônomo Carl Sagan: “Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício de espaço”. Parafraseando-o, senão existisse desperdício na Terra, nosso planeta seria um paraíso.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 05 Outubro 2024 às 11:00 - em: Falando Nisso