
De quem é a culpa mesmo?
Na segunda-feira, 10 de agosto, os municípios de Mato Grosso do Sul vão parar num ato de manifestação contra a crise financeira. De acordo com a Assomasul, os prefeitos vão lançar uma campanha de esclarecimento à população e o objetivo é mostrar quais as obrigações de cada um, governos federal, estadual e municipal, para que a culpa não recaia APENAS nos prefeitos.
É óbvio que há uma crise financeira instalada, diminuição do repasse do FPM, há os restos a pagar e que por causa do contingenciamento do Governo Federal não serão pagos. Sim, financeiramente, está muito complicado e acaba sobrando para o lado mais fraco, os municípios.
Então, pobres prefeitos, coitados, são obrigados a repassar as suas cidades, aos servidores públicos e ao povo o prejuízo da crise. Não têm culpa da situação que vive o País, tanto que decretaram um dia de ponto facultativo, onde fecharão as prefeituras e farão um protesto mostrando que eles não têm culpa.
Ok, eles não têm culpa, mas têm moral?
Se fizermos uma busca rápida na internet com as palavras “corrupção prefeito mato grosso do sul”, encontramos algumas notícias interessantes que falam sobre Gaeco, afastamento de prefeito, cheque em branco, suspeita de corrupção, entre outras, e em todas as regiões do Estado.
É praticamente de conhecimento público os 10% ou mais, pagos como compensação por pegar a obra ou fornecer o produto. Institui-se a política da propina.
Outro dia conversando com o dono de uma pequena empreiteira, ele me contava sobre uma obra de pequeno porte que tentou pegar numa prefeitura no interior, participando da licitação. Depois do processo iniciado, foi convidado ao gabinete do Prefeito que abertamente iniciou a conversa para combinar a porcentagem. Diante da negativa do empreiteiro, não houve mais obra.
Este empreiteiro mostrou-se indignado, não somente com o pedido, mas principalmente com a naturalidade com que o assunto é tratado, não há pudor. Mas ele é um entre milhares, que prefere não pegar obra a pagar propina.
A voracidade pela propina dos políticos é tamanha, tão institucionalizada, que não importa de onde saia, não importa se é a comida das crianças ou o telhado do posto de saúde. O mal da corrupção está começando a fazer parte do nosso DNA, já é parte do nosso dia a dia.
Nas gravações da Lama Asfáltica um fiscal de obras que tinha acabado de sair com seu ‘cafezinho’ reclamava da ação da Polícia Federal, que a seu ver deveria estar na rodovia, apreendendo drogas. Faltou dizer que ao invés disto estavam molestando pessoas de bem. Não disse textualmente, mas deu a impressão de que pensou isto.
Aliás, as conversas gravadas, tanto pelo Gaeco, como pela Polícia Federal, mostram que, mesmo tomando cuidado com as falas, as negociatas são comuns, são despudoradas, fazem parte da rotina destes homens e mulheres públicos, que tratam o dinheiro do povo como se fosse deles. Muitos fazem das prefeituras uma extensão do seu cofre pessoal, sem se importar se vai faltar dinheiro para o pagamento da merenda, do aumento constitucional, do investimento. O que realmente importa é a sua parte.
E aí quando vem a crise, os prefeitos, que não conseguem nem pagar os salários dos servidores, amansam e vão pra ruas ‘bater panelas’, reclamar de que são tratados como culpados, mas que não têm culpa, sem sequer lembrar se tem ou não moral. Pobres prefeitos.
E nós, povo, assistimos a tudo com uma passividade assustadora. Temos medo de ser chamados de baderneiros, de subversivos. Temos a certeza que se formos protestar e resolvermos tacar tomate e ovo podre nos corruptos, vamos ser presos e ainda daremos razão a nossa prisão.
Porque o nosso papel, enquanto povo, é assistir, não participar, é concordar e não questionar, é votar e não cobrar.
Então eu pergunto de novo: de quem é a culpa mesmo?
(*Marcia Scherer é publicitária e especialista em marketing político, sócia do Bureau de Planejamento, trabalhou na campanha de Alcides Bernal em 2012, foi sua assessora na Prefeitura, é briguenta, fala o que pensa e ama Campo Grande)
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Postado por: , 07 Agosto 2015 às 14:40 - em: Falando Nisso