Heitor Freire (*)
Das expressões jocosas
Em primeiro lugar, eu gostaria de introduzir este artigo com uma definição necessária, porque vamos tratar dos disfemismos, um termo que não é muito conhecido: os disfemismos são as expressões jocosas, irônicas, geralmente de origem na linguagem das ruas.
A sabedoria popular, naturalmente, cunhou diversos ditos, que acabaram sendo incorporados ao nosso vocabulário e constituem um anedotário que nos soa familiar, pois eles têm um surpreendente poder de síntese e conseguem fazer sentido em poucas palavras. Tudo isso resume o modo como o povo fala e se manifesta diante de situações que registram o dramático, o cômico e o inusitado, ficam marcadas na nossa memória coletiva e acabam forjando um belo conjunto de características próprias de um lugar, de uma região ou de um país. É o que podemos chamar de caldo cultural, enfim.
Copio a seguir uma modesta seleção de ditos populares, cuja autoria é desconhecida:
“Mais quieto que guri cagado” – Dá pra imaginar a cena de uma criança que vai caminhando devagar, atenta, cuidando para que ninguém perceba o que acaba de acontecer, enquanto tenta chegar inteira ao banheiro mais próximo.
“Mais sério que cachorro embarcado em canoa furada” – O cachorro vai olhando atentamente para as margens para decidir o momento de se jogar na água com menos risco.
“Homem precisa de mulher para tudo: para nascer, viver, procriar e até para ser corno” – Sem mulher, o homem não existe.
“O senhor é filho da dona Candinha? Sim, por quê?" – pergunta o valentão que está afrontando todo mundo num bar, chutando cadeira, derrubando mesa, e encarando o mineirinho, que continua cortando o fumo para seu cigarrinho de palha. Ele responde: “Comi muito a senhora sua mãe”. E assim ele acaba com a valentia do fanfarrão.
“Baixinho é cu-de-sapo” – Uma vez, num jantar de profissionais de venda, um deles pediu: “Baixinho, passa o sal”. E este respondeu: “Baixinho é cu-de-sapo”. E o primeiro retrucou: “Cu-de-sapo, passa o sal”.
“Chato que nem gilete caída em chão de banheiro”.
“Com cara de quem tomou chá de losna sem açúcar”.
“Cheirando bem como cangote de noiva”.
“Firme que nem palanque em banhado”.
“Firme que nem prego em taquara”.
“Folgada como cama de viúva”.
“Folgada como luva de maquinista, que qualquer um mete a mão”.
“Folgada como peido em bombacha”.
“Mais perdido do que cego em tiroteio”.
“Mais cumprida do que puteada de gago”.
“Mais branco do que perna de freira”.
“Mais sujo do que pau de galinheiro”.
“Mais faceiro do que pinto no lixo”.
“Mais velho do que andar a pé”.
“Tranquilo como água de poço”.
“Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça”.
“Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
“Quem não tem cão, caça como gato”.
“O hábito faz o monge”.
“Não adianta chorar pelo leite derramado”.
“A necessidade é a mãe da invenção”.
“Não se faz omelete sem quebrar os ovos”.
“O peixe morre pela boca”.
“A curiosidade matou o rato”.
“Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”.
“Dá nó em pingo d’água, não molha os dedos e esconde as pontas”.
“O que engorda o gado é o olho do dono”.
“O apressado come cru”.
“A rapadura é doce, mas não é mole”.
“Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, é tolo ou não entende da arte”.
Enfim, há toda uma coleção de ditados de origem popular que denotam de forma descontraída a sabedoria que o povo transmite em poucas palavras e com simplicidade.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 27 Julho 2024 às 08:00 - em: Falando Nisso