Heitor Freire (*)
Da mudança
“A maioria das pessoas prefere morrer a pensar,
e é exatamente isso que elas fazem”
(Bertrand Russel)
A nossa caminhada ao longo da existência recebe naturalmente muitas influências que podem provocar algumas mudanças visíveis, outras nem tanto.
A verdadeira mudança é aquela que realizamos de forma consciente e aplicamos em nossos próprios atos, por menor que seja.
Assim, agora é o momento exato de pararmos tudo. Ouvir o nosso coração. Refletir. Meditar. Buscar o verdadeiro sentido do que está acontecendo, para que possamos avaliar o nosso próprio comportamento. Cada um tem dentro de si todas as ferramentas necessárias para fazer essa autoavaliação e mudar.
É hora e tempo de acordar, de agir com lucidez, firmeza e disciplina; de eleger a sinceridade como expressão dos nossos pensamentos e dos nossos atos, com todas as consequências daí advindas.
E não devemos dar importância à opinião dos outros a nosso respeito. Ao não responder, não discutir, passamos a praticar um dos ensinamentos do Tao Te King: agir pelo não agir. Em certas situações, não agir pode ter um sentido e uma força muito maiores do que se revidarmos instantaneamente. Imaginem quantas brigas domésticas, ou no trânsito, ou no trabalho, ou mesmo na política, no espaço coletivo, nas guerras, quanto conflito pode ser evitado pelo não agir.
O significado da vida é um questionamento que cada um se faz, naturalmente, de quando em quando. É um ponto que deve merecer atenção especial de quem entende a necessidade de saber por que e para que estamos aqui.
Essa resposta deve vir diretamente do coração, pois tem uma característica muito íntima que não pode sofrer influência de quem quer que seja, por sermos entidades únicas e incomparáveis.
As diferentes religiões buscam responder a esse impasse, mas o fazem de forma coletiva, e cada uma dá a interpretação que lhe permite manter seu rebanho apaziguado e circunscrito ao seu raio de ação. Dessa forma, as religiões foram, cada uma a seu tempo, suscitadas no sentido de contribuir para a evolução da humanidade. O problema é que como a religião é uma invenção humana, ela está sujeita a toda sorte de imperfeições, assim como qualquer outra atividade empreendida pelo homem. Às vezes, ela mais ajuda do que atrapalha e vice-versa, alternadamente de acordo com seu contexto.
À medida que vivemos, cada vez mais se evidencia a singularidade que nos caracteriza como seres únicos. Nem todos se dão conta da própria originalidade, imersos que estamos na frivolidade e na correria dos dias.
Para sair desse estado de torpor, a manifestação da autoconsciência é fundamental. É a consciência que nos proporciona o meio e as condições necessárias para a libertação. Não adianta seguir os ensinamentos de um guru ou de algum sábio de fora. O verdadeiro despertar acontece de dentro para fora, e nunca o contrário.
Vivemos num mundo em que as posições políticas se radicalizaram à esquerda e à direita. E não é por aí que resolveremos os problemas da humanidade, pois a polarização política é movida por interesses, e não por princípios. A esquerda e a direita só definem de onde virá a opressão, porque a opressão é a principal ferramenta de cada uma. E a opressão vem sempre de fora para dentro, mas submeter-se a ela depende de cada um. A submissão é pior do que a opressão, como bem vem demonstrando Eduardo Marinho, um filósofo das ruas. A não submissão enseja uma verdadeira libertação, que é um atributo das pessoas verdadeiramente pensantes.
Enquanto não nos libertarmos para valer viveremos sempre nessa situação. E a libertação é uma decisão individual. Jesus nos mostrou o caminho, há muito tempo. A grande maioria dos cristãos só são cristãos da boca para fora porque na realidade não cumprem os ensinamentos de Cristo.
Quo usque tandem?, minha gente, até quando?
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 15 Junho 2024 às 09:00 - em: Falando Nisso