Da consciência do ser Heitor Freire (*)

Da consciência do ser

O ser humano – esse ser incognoscível, irracional, inumano, esquisito e inconsciente, cujo comportamento contradiz sua essência e o ensinamento dos mestres que dedicaram suas vidas para lhe dar uma orientação pacífica – prefere dar as costas ao que lhe foi ensinado e dar ênfase à satisfação do ego, esse inimigo invisível e presente. Muitas vezes, procuramos a realização financeira, deixando de lado o essencial: o autoconhecimento, que pode nos proporcionar a libertação de angústias, sofrimento, doença, dor, peso do passado e medo do futuro.
 
O vírus da discórdia, da disputa, do conflito, da maldade e do egoísmo existente em grande parte da humanidade acaba prevalecendo no comportamento geral, provocando guerras pelos mais variados motivos. Parece que o ser humano se compraz e se realiza dessa maneira.
 
Quando nos voltarmos verdadeiramente para o que é significativo, primordial, essencial, original, esquecendo as diferenças – que sempre são de superfície, pois não existem na essência –, teremos um mundo de paz e alegria. O espírito não tem cor, não tem raça, não tem partido, não tem nacionalidade.
 
Até quando continuaremos nesse eterno conflito? Quantos bilhões de seres precisarão ser sacrificados nos campos de batalha para que finalmente haja um despertar da humanidade para a sua verdadeira finalidade, o amor ao próximo e a si mesmo?
 
Aprendi que esse conflito todo decorre da ignorância, do desconhecimento da essência do ser humano, do desconhecimento da sua consciência, em cujo altar seremos todos julgados, cada um na sua individualidade. Com a consciência não existe conversa fiada. Ela é testemunha permanente dos nossos atos, pensamentos e palavras, e aplica, quando chegar a hora, as leis espirituais que são irrecorríveis e não permitem complacência. Quando adquirirmos a dimensão da eternidade, da continuidade perene de nossas vidas, vamos, quem sabe, entender o que Jesus ensinou em Lucas 12:54-59: “E por que não julgais por vós mesmos o que é justo? (...) Digo-te que não sairás dali (da prisão), enquanto não pagares o último ceitil”. A lei do carma é implacável; plantou, vai ter que colher. Mais cedo ou mais tarde.
 
O medo da morte, de um possível fim, gera uma enorme angústia, e a libertação desse medo está dentro de nós mesmos. A esperança – a força que move o mundo, alimentando permanentemente a fé – é vista como algo fantasioso, irreal, inexistente, e deixa de ser considerada como a força motriz que realmente é. Há um ditado que diz que a esperança é a última que morre. Mas eu aprendi que a esperança não morre nunca.
 
Hoje estão em curso guerras entre países, guerras civis em que facções definidas contam com apoio de diferentes Estados, ou diversas formas de conflitos ativos no mundo, como situações de instabilidade política ou guerra às drogas e a grupos criminosos, assim como a guerra entre Israel e Hamas, Azerbaijão x Armênia, Rússia x Ucrânia, a guerra da Síria e a guerra civil no Iêmen. São centenas de milhares de mortos. Até quando? O medo da morte, nesses casos, parece não ter nenhum peso, porque o número de vítimas cresce assustadoramente. Até quando a vaidade dos governantes vai se sobrepor às necessidades da população? Até quando a força das armas vai superar a força do amor, do diálogo, da palavra?
 
Talvez o problema da humanidade seja a eterna espera por alguém que venha resolver seus problemas, em vez de fazermos por nós mesmos. É como fugir permanentemente da realidade. E nesse sentido, a dor, o sofrimento e a vaidade desmedida vão superando a força do amor, impedindo o desabrochar da paz tão desejada e intangível.
 
Já aprendemos que nada acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser. Então, a nós que estamos a milhares de quilômetros dos conflitos, resta seguir, talvez, um ensinamento de Buda:
 
“É você quem tem que fazer o esforço; os mestres somente te mostram o caminho.”
 
E assim, quem sabe, despertar a consciência do ser que se encontra dentro de cada um de nós e concorrer para que a paz e o amor reinem em nosso lindo planeta azul.
 
(* Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 18 Novembro 2023 às 08:00 - em: Falando Nisso


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