Heitor Freire (*)
Da arte e da cultura
Cada vez fico mais impressionado com a posição do poder público em geral e da sociedade em particular em relação ao descaso a que submetem a arte e a cultura, negando sua importância vital na formação e na educação de um povo.
Acompanho e participo da vida cultural do nosso estado desde 1985, quando minha filha Andréa, aos prantos, me disse que não queria ser médica. Ela vinha se preparando para o vestibular de medicina, mas desistiu, tomou coragem e veio me comunicar. Aquele desabafo dela foi uma surpresa para mim, porque em nenhum momento eu havia dito pra ela que seguisse a carreira de médica – pelo contrário, foi ela mesma quem tinha decidido assim. Ela me disse, então, que queria ser atriz. Eu repliquei que ela poderia ser o que quisesse, e perguntei o que seria necessário para isso. Ela já havia se informado e me disse que no Rio de Janeiro, na Unirio, havia um curso de artes cênicas. Então, providenciamos sua mudança para o Rio, e quatro anos depois ela se formaria como atriz. A seguir, fez pós graduação na UFRJ.
Paralelamente ao curso, ela passou a integrar o grupo Sobrevento, de teatro de bonecos, fundado por seus colegas de turma, Luiz André Cherubini, Sandra Vargas e Miguel Velhinho. Em 1992, Andréa sentiu uma inspiração e até um chamamento da nossa terra, para que viesse para cá para trabalhar efetivamente nessa área, as artes cênicas. O grupo Sobrevento continuou sua trajetória brilhante e vitoriosa, e hoje é um dos mais importantes grupos de teatro do Brasil, com muitos prêmios conquistados e uma crítica unânime de excelência. Andréa, do lado de cá, sempre manteve contato com eles e participa periodicamente de suas atuações.
É impressionante o impacto que o trabalho da Andréa produziu na nossa família. Além de me motivar com um olhar voltado para as artes, cada integrante da nossa família, cada um a seu modo, acabou se envolvendo nisso. Minhas outras filhas, de modo geral, colaboraram na produção da peças da Andréa, que trabalha ao lado do marido, Belchior, na produção geral; minha mulher, Rosaria, assumiu a organização do camarim e confeccionou o figurino em alguns espetáculos; Alessandra, minha filha número cinco, trabalhou na montagem; e Flávia, a número seis, ajudou na divulgação dos trabalhos mais recentes, e assim todos nós passamos a frequentar mais o mundo do teatro, dos shows ao vivo e ficamos mais atentos às artes. E nessa onda, eu mesmo acabei me tornando escritor, coisa que não tinha planejado antes.
Foi um despertar coletivo da família.
Em 2002, a convite do professor Hildebrando Campestrini, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, passei a integrar a equipe do IHG-MS, onde fui eleito vice-presidente, apesar de ter alertado o professor Campestrini sobre o meu desconhecimento das atividades do Instituto. Ele me disse que sabia o que estava fazendo. E a partir daí arregacei mangas e mergulhei profundamente nas águas da história, da arte e da cultura, para delas nunca mais me afastar.
No instituto acabei participando, ao lado da Vera Tylde de Castro Pinto, da edição de dois livros históricos: Decolando daqui – que conta a história da aviação particular em nosso estado – e O Rádio a voz da história sul-mato-grossense – no qual relatamos a epopeia que foi a invenção do rádio e seu impacto na nossa região. Os dois livros contaram com a preciosa colaboração de protagonistas importantes de nossa história recente, como o dr. Abílio Leite de Barros (escritor e historiador), Carlos Achucarro (o radialista conhecido como Juca Ganso), Luiz Umberto Aspesi, Pierre Adri e outros.
Ainda no IHG, também escrevi, como parte da série Eu Sou História, um livro que narra a história do Baiano Pipoqueiro, uma figura querida e sempre presente, com seu carrinho de pipoca quentinha e crocante na saída das escolas de Campo Grande, e que acompanhou o crescimento de algumas gerações de jovens estudantes nas ruas de nossa cidade.
Também com a Vera Tylde no IHG, instituímos os seminários de desenvolvimento institucional do nosso estado. Este ano, estamos chegando à 18ª edição, com o tema Multi crenças em MS.
Além disso, sou colaborador do jornal O Estado, no qual publico artigos semanais sobre os mais variados temas. Até hoje, são mais de setecentos.
Desde sempre tenho participado ativamente da arte e da cultura do nosso estado, e de Campo Grande em particular, constatando a seriedade com que os diversos protagonistas se manifestam, comprovando o seu caráter formativo e transformador de uma sociedade.
Vamos em frente, que atrás vem gente.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 16 Março 2024 às 08:00 - em: Falando Nisso