Maria Ângela Coelho Mirault (*)
"Crime não é tradição e não tem justificação"
Muito cuidado com as Ongs e todo tipo de organização que recebe o dinheiro dos nossos impostos, repassado pelo governo, para suas bandeiras de luta. É evidente que as há pautadas na ética e em preceitos morais elevados e incontamináveis. Mas, aquelas (e são muitas) que se utilizam desse instrumento de ação social para saciar a cobiça, a falta de escrúpulos e a alma corrupta de seus dirigentes devem ser execradas, e, mais ainda, punidas com o máximo rigor da lei – nesse caso a redundância é oportuna. Essas nos ferem e maculam as que são sãs.
Uma organização de preservação ambientalista, cuja presidência está sob a responsabilidade de um ser humano, que empunha uma bandeira publicamente e a desonra e a mancha com sangue, na clandestinidade de suas ações em sua pseudo propriedade, não pode ficar impune. Sua abastança não pode justificar a corrupção do seu não indiciamento legal. Como assistir, sem nojo, sem indignação, seu sorriso imoral frente à carcaça de sua matança? Como admitir e passar por cima dos seus atos hediondos contra a natureza que, publicamente, diz conservar? Safari no Pantanal é tão absurdo quanto “casa de tolerância” na santa–sé, tão abjeto quanto a permissividade com a pedofilia. Como se pode justificar o crime cometido contra um patrimônio público que é a fauna brasileira como simples empreendimento econômico de lazer, justificado na tradição cultural? Tradição cultural de quem, cara-pálida? De que tradição cultural está se referindo seus defensores? Era tradição, econômica e cultural a escravatura, NÃO É MAIS, desde sua abolição. E daí, vamos permiti-la, assimila-la ou justifica-la nos dias de hoje?
Que gente é essa que tem em seu arcabouço racional-humano, por tradição, assassinar fria e covardemente animais em extinção protegidos por leis, sabendo, inclusive, que sua ação criminosa estava sendo filmada? Que gente é essa que julga ter o poder de infringir costumes e leis civilizadas, em nome de sua ganância, de sua tradição, do referencial do seu nome? Que gente é essa que se utiliza de um status junto a sociedade e, na privacidade, dá vasão aos seus instintos criminosos?
Desinformada do seu crime (existem leis de proteção animal e ambiental nesse país!) esse ser humano não o é. Sua livre adesão a uma organização não-governamental ambientalista, sua liderança a esse movimento, mais do que nunca, são sua expressa confissão e deve ser o móvel de sua condenação. Provavelmente, essa ser humano usufruiu, com os recursos dos nossos impostos, a todas as mordomias que esse tipo de ação social acaba por conceder, com viagens – até para o exterior - para participar de reuniões, congressos e tudo mais. No Evangelho encontramos “perdoa, Pai, porque eles não sabem o que fazem”, justificou Jesus no auge do seu flagelo. As onças e nós não poderíamos dizer o mesmo porque esse ser-humano sabia, muito bem, o que fazia, o que infringia e o que permitia nos hediondos safaris que promovia. Não só sabia como ganhava muito por sua contravenção; seus safaris custavam, aos bolsos dos frios criminosos, muitos mil reais, que, com certeza, lhes pesam, agora, multiplicados, pelo menos, nos seus bolsos; em suas consciências ainda não.
Esse ser humano abjeto- senhora respeitável da sociedade sul-mato-grossense - tornou-se um símbolo, o símbolo da desonra, da desonestidade, da criminalidade, igualando-se a todo e qualquer criminoso e tem o dever de dar satisfações a sociedade a que pertence e a quem conspurcou: indiciada, processada, julgada e punida. É só o que merece, nesse momento, o rigor da lei, e é apenas o que esperamos. Que os milhões em espécie ou patrimoniais que lhe pertençam não permitam a omissão da justiça. Que lhe custe muito caro as dantescas matanças que promoveu, assim como é urgente que se faça uma devassa administrativa, financeira e fiscal no organismo ambiental a que presidia.
E que, antes de tudo, sirvam de exemplos e lições, para que os nossos olhos e, principalmente, os olhos da justiça, por intermédio do dever do Ministério Público, se voltem para essas organizações que, em grande maioria, não passam de fachadas para a locupletação de seus dirigentes. Não apenas os ambientalistas, como todo organismos sociais que se criam e se sustentam em favor da criança, do adolescente, dos usuários de drogas, por exemplo, e dela se utilizam para o ilícito e vergonhoso enriquecimento próprio, para a prática do nepotismo em sua estrutura. Mesmo porque nós, o povo, nada podemos fazer contra esses, aparentemente, respeitáveis e invisíveis criminosos.
Maria Angela Coelho Mirault, cidadã brasileira.
(*Maria Ângela Coelho Mirault, residente em Campo Grande-MS, é doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP - mariaangela.mirault@gmail.com)
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Postado por: Maria Ângela Coelho Mirault (*), 12 Maio 2011 às 18:05 - em: Falando Nisso