Contra Dilma Dante Filho (*)

Contra Dilma

O artigo abaixo foi escrito e publicado em junho de 2010. O tempo passa, mas a realidade brasileira é previsível demais para sermos profetas com muita facilidade. Vamos a ele:
 
É inútil criticar Dilma Roussef pelo seu passado controverso. Não vale a pena perder tempo escrevendo sobre suas recentes transformações estéticas. Muito menos denunciando que essa intervenção cosmética esteja custando aos cofres do PT mais de R$ 30 mil mensais. Os articulistas que apontam que ela é um poste, uma mala sem alça, uma figura destituída de autonomia nas esferas do grande poder – imaginando, assim, atingi-la pelos flancos - jogam palavras ao vento. Quem pensa que detona Dilma insultando-a pela sua evidente inexperiência eleitoral apenas pratica o autoengano. 
 
“A candidata de Lula” não está nem aí para essas bobagens e segue adiante, sem dar a mínima paras vozes dissonantes, mesmo porque o público que interessa a ela – e aos seus apoiadores - não lê jornais, não liga para a política, não sabe nem o que significa “senso crítico”, muito menos presta atenção às platitudes intelectuais que demonstram por A mais B que ela cumpre apenas um papel fictício para manter em pé um personagem esquisito neste mundo bisonho do jogo sucessório.
 
A “questão Dilma”, na verdade, não tem nada a ver com essa mulher de 62 anos, com fama de durona e nenhum jogo de cintura, que agora se esforça para parecer um ser humano. Quem a atacar por aí destacando seu protagonismo na luta armada dos anos 60, observando corretamente que ela é apenas um brinquedinho (caro) nas mãos de Lula, não irá muito além disso, podendo inclusive ajudá-la nas reversões de expectativas: verá ela crescer nas pesquisas e, com isso, se sentirá cada vez mais impotente. Essa é a dura realidade.
 
Dilma Roussef – essa que está aparecendo agora, a bem da verdade, não existe. O que existe de fato – e na concretude das coisas – é a “candidata do Lula”. Ela encarna e catalisa o atual período de bem estar da sociedade brasileira, no exato momento histórico em que as grandes massas acreditam que chegaram ao paraíso pelo fato de pegar dinheiro emprestado nos bancos (pagando os juros mais altos do mundo) para consumir quinquilharias ou adquirir imóveis residenciais de péssima qualidade. 
 
É provável que ainda demore algum tempo para cair a ficha de que o Brasil, no fundo, é a mais nova vítima global do que vem sendo chamado de “capitalismo parasitário”, um processo pelo qual milhões de pessoas tornam-se prisioneiras de um sistema de concessão de créditos financeiros, cuja lógica é pagar cada vez mais para se endividar de maneira crescente como se fosse um vício.  
 
Mas também é inútil criticar este festim diabólico, insistindo no mantra de que ser consumidor não tem nada a ver com o cidadão, mesmo porque essa tese não cola quando o indivíduo está vivendo a plenitude da realização de seus desejos. Neste mundo em que vivemos a idéia de felicidade está estreitamente vinculada ao poder de compra de objetos, não importa como e a que preço. A prestação tem que caber no salário. O resto empurra-se com a barriga esperando dias melhores pela frente. 
 
Neste campo, o que poderá fragilizar Dilma será a mudança deste paradigma nos próximos meses. Um contexto de inflação elevada, inadimplência crescente e juros altos podem influir pontualmente no quadro eleitoral. Mas a sensação de que a economia está em retração leva algum tempo para ser sentida pelo grosso da população. Por isso, o grau de incerteza na política será cada maior à medida que se aproxima a data do pleito eleitoral.  
 
Outro ponto preocupante da candidatura de Dilma – que poderá reverter algumas expectativas nos grupos políticos mais esclarecidos da classe média (20 milhões de eleitores) – são as condições objetivas de sua governabilidade. Qualquer exercício que desenhe cenários futuros (sem que se viaje muito na maionese) não erra muito se imaginar que Dilma – caso seja eleita -  terá muitas dificuldades para articular e manter um Governo de coalizão, mesmo porque ela não tem a experiência e a capacidade de Lula para fazer isso.
 
Ou seja, Dilma será sempre um personagem manipulável, tendo que obedecer cegamente ao Lulismo onipresente e ser servil à voracidade da trinca Sarney, Renan e Collor. Um eventual Governo Dilma será uma aposta na radicalização do processo de degradação das relações políticas fisiológicas e clientelísticas atuais. Neste aspecto, Ciro Gomes tinha razão: crescerá o roçado de escândalos.
 
Mais do que isso: 2011 o caldo ficará grosso com a economia retraída combinada com desarranjos políticos. Os componentes explosivos desse processo dão, desde já, o que pensar. O eleitorado brasileiro corre o risco de dormir com Dilma e acordar com Michel Temer. Será no mínimo esquisito.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 30 Abril 2016 às 14:30 - em: Falando Nisso


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