Carta Aberta à Nova Advocacia Fernando Larangeira (*)

Carta Aberta à Nova Advocacia

O novo advogado, o bacharel em direito é um profissional que, ao se lançar no mercado, já nasce com um estigma: a de que não é dotado de vocação alguma. Recordo-me dos chavões  que são defenestrados no período em que se presta o vestibular: “a turma que vai prestar direto é a turma dos que não sabem o que querem da vida”.
 
Parte disso é verdade; mas a essa premissa passa a ser falsa, se não complementada:  ela se aplica a quase todos os  adolescentes, no início da fase adulta;  aos 17 anos, ninguém sabe o que quer da vida. Essa verdade não é dita por mim; mas vem desde Platão, que, na obra,” o banquete”, afirmou categoricamente que não é possível amar aquilo que não se conhece. Ora, como amar ou odiar uma profissão,  se a mesma ainda não foi exercida? Curioso é saber por que os alunos que escolhem fazer faculdade de direito é que carregam a pecha de serem aventureiros, enquanto todos o são.
 
Outro ponto interessante: afirma-se que  as universidades de direito não dão embasamento para formar um profissional, graduado em ciências jurídicas. Mas agora vai a pergunta: será que a existência de faculdades boas e ruins não é uma realidade que também poderia ser estendida a outras profissões ou possuir cursos ruins é um carma das faculdades de direito? Outra questão também é interessante:  o advogado sempre é visto como profissional de conduta ética duvidosa; mas por que apenas o advogado ?
 
Sabe-se, segundo os psicólogos, que a formação da personalidade se dá, em especial, durante a infância e não segundo o curso de ensino superior cursado. Assim como há advogados não tão bons, que, por exemplo, colocam em situação constrangedora, não apenas o cliente, mas também o próprio colega de profissão, seja pelo pagamento de salários aviltantes, seja pela difamação gratuita, seja pelo assédio moral dentro do escritório também há médicos, arquitetos, engenheiros etc. não tão dotados de espírito público e de interesse pelo bem-estar do próximo.
 
Sob essa perspectiva, o ofício da advocacia apresenta traços em comum com as demais profissões. Mas dele decorre um traço de especial importância, menos em razão das pessoas que o exercem e mais devido à rotina do advogado: ele passa a ser um crítico das leis e, em razão disso, um vetor de modificação social; não por que o advogado é um líder de carismático, mas, sim, porque a sua  rotina o obriga a ter contato, diariamente, com litígios, com insatisfações das pessoas em face do sistema legal vigente. Os advogados, portanto, passam a ser um pivô de alteração social que levando a pretensão do cliente a um tribunal, exercem uma função parecida com a de uma ponte, estabelecendo um elo entre dois extremos: as repartições públicas e a sociedade. 
 
Aquele que entra na advocacia acaba, sem o saber, tendo uma responsabilidade social enorme que ultrapassa as barreiras do escritório – eis a surpresa que, só depois de formado, o acadêmico de direito se dá conta. Uma sociedade sem a advocacia forte acaba sendo uma  sociedade engessada, presa no tempo, ultrapassada pelas outras que respeitam os críticos das leis. Respeito este construído ao longo do tempo, começado pelo respeito  diante de outros colegas de profissão, começando pelo respeito a sua forma de pensar, na preocupação em formar lideres, não cordeiros ou feras encabrestadas, já que o novo advogado de hoje vai ser o catalisador da transformação social do amanhã. 
 
(*Fernando Larangeira é advogado em Campo Grande – MS e conselheiro da Associação dos Novos Advogados - ANA-MS)
 


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Postado por: Fernando Larangeira (*), 28 Setembro 2015 às 13:00 - em: Falando Nisso


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