Campo Grande, Campo Grande! Heitor Freire (*)

Campo Grande, Campo Grande!

Campo Grande é uma cidade abençoada. Seus cidadãos, desde a fundação, demonstraram um amor genuíno pela nossa cidade, com sentimento de pertencimento bem pronunciado. Tanto que, desde sempre, fizeram iniciativas das mais variadas, voltadas para o bem comum da coletividade.
 
Assim, foi, por exemplo, em 1917, quando alguns cidadãos liderados por Eduardo Santos Pereira, Bernardo Franco Baís, Camillo Boni, Manoel Victor Pace e tantos outros, iniciaram uma subscrição pública para arrecadar fundos com o objetivo de fundar uma Santa Casa. 
 
Esse mesmo grupo de cidadãos fundou em 1926 a Associação Comercial, cujo primeiro presidente foi Eduardo Olímpio Machado, que seria depois o prefeito da cidade.
Em 1932 o dr. Vespasiano Barbosa Martins liderou um grupo político, transferindo a capital do estado de Cuiabá para Campo Grande por decreto, concretizando um anseio antigo da nossa gente. Pouco depois ele se uniu ao estado de São Paulo, na Revolução Constitucionalista de 1932. Esse foi um sonho que durou pouco, mas produziu sementes que estimularam um grupo de estudantes no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano, liderados por Ruben Castro Pinto, Oclécio Barbosa Martins e outros, a criar a Liga Sul-Mato-Grossense Pró Divisão do Estado, que em janeiro de 1934 publicou o Manifesto da Mocidade do Sul de Mato Grosso, mais tarde ressuscitada por Paulo Coelho Machado na década de 70, resultando finalmente na criação do estado de Mato Grosso do Sul.
 
Atualmente, um grupo de cidadãos liderado por Alfredo Sulzer vem realizando o monitoramento de Campo Grande, por meio do Movimento dos Amigos do Parque, com a conquista de algumas vitórias consagradoras, como a preservação da nascente do córrego Joaquim Português e o cancelamento do projeto de um grande estacionamento que seria implantando no Parque dos Poderes, para o qual conseguiram sensibilizar o governador Reinaldo Azambuja – que assumiu o compromisso de não derrubar nenhuma árvore no parque durante a reforma no local.
 
O grupo também atuou com êxito na contestação do projeto de construção do Palácio da Justiça, que foi suspenso. Hoje, aliado a outros movimentos populares e ambientalistas, eles se dedicam a um novo projeto: o tombamento do Complexo do Parque dos Poderes, que visa exatamente a preservação dessa área – objeto do olhar visionário do ex-governador Pedro Pedrossian, homem público dotado de um projeto de engrandecimento da nossa cidade e sua qualidade de vida. Foi ele também o idealizador do Parque das Nações Indígenas.
 
Alfredo Sulzer certamente conhece o Tratado de Gratidão de São Tomás de Aquino, pois sempre voltou o olhar para o futuro da nossa cidade, com sentimento de profunda gratidão. O Tratado possui três diferentes níveis de compreensão desse sentimento: 
 
1 - Reconhecimento da graça ou favor recebido;
2 - Sensação de gratidão pelo que foi recebido, sentimento de emoção por ter recebido uma ajuda espontânea;
3 - Retribuição da graça recebida, não por obrigação, mas para permitir que outras pessoas experienciem o mesmo sentimento.
 
É o genuíno sentimento de pertencimento, elevado ao seu mais alto grau, a fim de preservar e proteger o bem comum.
 
Ultimamente, a escritora Sylvia Cesco vem procurando mobilizar as entidades culturais com a finalidade de iniciar um movimento para transferir a estátua de Manoel de Barros para a Avenida do Poeta. Pessoalmente, penso que não seria o local mais adequado. 
 
Essa iniciativa é, de certo modo, um grito de protesto pela falta de sensibilidade das autoridades e desrespeito pela memória desse grande representante da nossa cultura. Há dois anos, a estátua teve um dos pés arrancados, e até hoje esse reparo não foi feito. Esse é mais um exemplo de descaso que beira à irresponsabilidade e ingratidão. Até quando, a Secretaria de Cultura do Estado, que instalou a estátua com pompa e circunstância, com presença do governador, discursos laudatórios, etc. vai permanecer inerte?
 
Campo Grande, por seus cidadãos mais conscientes, está alerta e acompanha toda a movimentação urbana, em defesa dos mais elementares direitos da cidadania.
 
Viva Campo Grande e seus cidadãos.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 03 Junho 2023 às 10:15 - em: Falando Nisso


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