Brumas do tempo...

Cine Alhambra/Acervo de Edson Contar
Brumas do tempo...

Por Edson Contar (*)

São doze horas e trinta minutos...Já estamos na fila esperando as portas serem abertas.

Dona Maria (que viria casar-se com o Dr. Leon Denizart Conte) é a bilheteira e já se acomoda no aquario redondo do caixa; seu Carlos, o que pinta os cartazes, anda de um lado pra outro, ajeitando cortinas e móveis, seu João , o porteiro (está vivíssimo), toma posição e, aqui fora, a garotada está impaciente...

Hoje tem "Caim e Abel"  da Colúmbia Pictures e depois, o seriado do Tom Mix.

Na fila, as primeiras paqueras, ou era flerte?...As mocinhas são alinhadas e bonitinhas...Quem sabe a gente pede pra guardar lugar e uma delas aceita, né?

Entramos!...-Uma "entrada de estudante" por favor...

Boa tarde seu João!...E lá vamos nós em direção as pesadas cortinas de veludo que separam a paltéia da enorme sala de recepção...Uma passadinha, antes, no baleiro, seu Nelson, para comprar uns caramelos ou drops e poder oferecer algo a namoradinha...Tem chocolates também, só que são mais caros e o dinheiro é pouco; na saida tem que sobrar pra pipoca ou um sorvete na São José do Calarge, em frente a praça, né?...Quem sabe, até um sonho do italiano na esquina....

As moças vão se acomodando e nós, os rapazinhos, começamos a "caça" rs

É um vai-vem pelos corredores, olhares, sorrisos e sinais, sem falar na mímica ("posso sentar com você?")

Um pulinho nos camarotes...Sem chance, os papais e mamães estão por lá...Lá em cima, na colméia, lá em cima, não tem muita gente...

Aí, entra esta música e é um Deus nos acuda...A paquera não rendeu...O jeito é sentar em qualquer lugar e asssitir o filme...Fazer o que?

Domingo que vem tem mais!...Eu ainda arrumo uma namorada!...
 
Ah!...Que saudades do velho Alhambra, do meu terno de linho comprado na Rener, da Maria, do Carlos e do seu João...

Do Tarcisio eu não falei, gente! Logo ele, o boa gente que livrava a nossa cara quando os  lanterninhas Alaor ou o Içum tiravam a gente só porque batiamos os pés no chão, na emoção de ver o mocinho beijar a mocinha ou para avisar o Tom Mix que tinha um cara lá em cima mirando para atirar nele. Um abraço, amigo!

Eu tinha as fotos aqui e, ouvindo esta música, não deu pra segurar...tive que viajar aos velhos tempos e conversar com vocês...

Agora, os que viveram aqueles tempos, chorem aí, vendo, ouvindo e relembrando...Os que não são "antigos", chorem mais ainda...Vocês não sabem o que perderam!

...Eu chorei!

(*Edson Contar é escritor, pesquisador e jornalista, bisneto do fundador de Campo Grande-MS, José Antonio Pereira)

Siga o Blogueiro no Twitter


Deixe seu comentário


Postado por: Marco Eusébio, 25 Novembro 2010 às 11:22 - em: Garimpando Historia


MAIS LIDAS