Borba, 100 anos!
No dia 22 de julho tive a oportunidade e a alegria de participar da comemoração de 100 anos do meu padrinho, José Camargo Borba.
O Borba é daquelas pessoas cujo convívio enriquece quem se aproxima dele. Nasceu em Rio Brilhante e veio para Campo Grande aos três anos de idade. E por aqui ficou.
Aos quatorze anos, foi trabalhar como aprendiz de marceneiro na indústria de móveis do Terruta Ishy, onde logo se destacou e depois de um ano se transformou em mestre de acabamento.
Licenciou-se da indústria para fazer o serviço militar, incorporando-se ao 10º Regimento de Cavalaria, em Bela Vista. Era época da Segunda Guerra Mundial e o contingente composto em sua grande maioria por nordestinos – que, além da guerra, também brigavam entre si – estava sendo preparado para ser enviado à Itália, com a Força Expedicionária Brasileira, a gloriosa FEB.
Foi ali que sua postura de coragem, equilíbrio e bom senso evitou que, em certa ocasião, houvesse derramamento de sangue, quando dois grupos armados de peixeiras se preparavam para uma luta de vida ou morte, e o Borba se postou entre eles e conseguiu acalmá-los.
Na véspera do embarque para o Rio de Janeiro, acabou a guerra e ele foi desmobilizado, voltando para Campo Grande e para a indústria de móveis.
Borba então recomeçou seus estudos, concluiu o ginásio e ingressou no curso de técnico em contabilidade na Escola Técnica de Comércio Carlos de Carvalho, onde conheceu, no primeiro dia de aula, uma colega que lhe impressionou fortemente, isso em 1950. Era a Erothildes, que viria a ser sua esposa. Concluíram o curso em 1953 e casaram no ano seguinte. O casal teve três filhos: Nei, médico pediatra; Margarete, advogada, e Júnior, cirurgião dentista.
Já formado, Borba decidiu iniciar sua vida profissional em um grande centro, onde as oportunidades seriam maiores do que em Campo Grande. Mudou-se para São Paulo, onde se apresentou ousadamente num dos maiores escritórios de contabilidade da capital paulista. Passou por uma avaliação, e foi admitido de imediato. Logo foi galgando os mais elevados cargos, com salários acima da média de seus colegas. Como homem previdente e de objetivos bem definidos, Borba foi fazendo seu pé-de-meia.
Depois de cinco anos em São Paulo, ele decidiu que era hora de voltar a Campo Grande, e comunicou sua decisão ao dono do escritório. O patrão procurou dissuadi-lo, acenando com a possibilidade de um futuro promissor na empresa. Mas Borba estava determinado, como sempre. Já havia comprado móveis, máquinas e equipamentos para o seu futuro escritório.
Chegando em Campo Grande, Borba se deparou com uma situação inesperada. Ao instalar seu escritório, recebeu a visita de dez contadores que constituíam um clube fechado, autodenominado “Grupo dos Dez”, que não admitiam a chegada de nenhum outro concorrente. Assim, recebeu a intimação de fechar seu escritório imediatamente ou de subordinar-se a um deles.
Evidentemente, Borba não aceitou a imposição, e, determinado, decidiu enfrentar o Grupo, iniciando o seu trabalho apesar dessa dificuldade, mas que, mercê da sua determinação, coragem e força, foi vencendo aos poucos, encontrando apoio em alguns comerciantes. Por essa ação firme foi também permitindo e inspirando a instalação de outros escritórios.
Em pouco tempo, ele adquiriu fama e conquistou clientes que lhe foram fiéis por todo o tempo em que exerceu a profissão. Seu Escritório de Contabilidade São Paulo ocupou um lugar de destaque nesse ramo em nossa cidade.
A sua influência não ficou restrita apenas ao campo profissional. Borba teve atuação destacada no meio social e sindical. Foi ele quem conseguiu a doação de uma área para a construção da sede social do sindicato dos contabilistas, doada pelo então prefeito, Levy Dias.
Borba fez parte do Colégio de Vogais, que fundou a Junta Comercial do Estado de Mato Grosso do Sul, do qual foi membro por longos anos.
Foi esse grande cidadão, a quem presto esta homenagem e devoto minha gratidão, que influenciou a minha vida e a de muitos homens e mulheres em nossa cidade.
Nesta minha encarnação, três momentos foram marcantes: o meu casamento, o nascimento de minhas filhas e a minha iniciação na Ordem Maçônica, que me foi propiciada pelo Borba, meu padrinho de Maçonaria.
Na Maçonaria, galguei todos os graus e exerci os mais elevados cargos, onde permaneço há 43 anos e continuarei para sempre, por toda a eternidade. Esse presente devo ao Borba, que viu em mim as condições necessárias para vivenciar esse trabalho.
E hoje, aos 100 anos de idade, lúcido, firme e consciente, Borba nos brindou, no seu aniversário, com um poema, que sintetiza, com muita propriedade, sua vida:
“Cem anos, vivendo com amor
Sem arrependimentos ou rancor,
Cem anos contados, de alegrias e provações
Sem desistir ante adversas situações,
Cem anos para comemorar!
Com alegria, amor e saúde, renovados a cada dia,
Com a graça de Deus!”
Vida longa ao meu padrinho, um verdadeiro Varão de Plutarco**
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
(**Varão de Plutarco é uma alusão ao homem probo que possui relevantes serviços prestados à pátria. Plutarco - 46-120 d.C. - foi um historiador grego)
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Postado por: , 29 Julho 2023 às 10:15 - em: Falando Nisso