Beijo no asfalto Marco Eusébio

Beijo no asfalto

O prefeito Olarte entrou no jogo: anunciou que fará novas licitações para contratar empreiteiras que executam os serviços de tapa-buraco em Campo Grande. Há quase um mês ele vem sendo objeto de pancadaria da imprensa e da população por causa das imagens divulgadas que mostravam funcionários de empresas de pavimentação tapando buracos inexistentes nas ruas da cidade. 
 
O assunto pegou e rendeu inclusive pauta nacional. Nesse meio tempo, o prefeito tergiversou, foi ameaçado com uma CPI, sentiu o cheiro de enxofre, e, no fim de semana, fez o público saber que começará tudo de novo, abrindo licitações para tentar renovar a lista dos prestadores de serviços. Nas linhas subliminares da decisão Olarte vem a sutil indicação publicitária de renovação total desse departamento.
 
Vai dar certo ? Tem-se que pagar para ver. Até as antas do Parque das Nações sabem que existe forte odor de propinagem nesta modalidade de obras públicas.
 
Portanto, nada mais correto do que rodar novo programa para que um serviço bancado com dinheiro do contribuinte sirva para melhorar verdadeiramente a nossa malha asfáltica, possibilitando dessa maneira uma trafegabilidade que não transforme em pouco tempo veículos financiados a perder de vistas em sucatas ambulantes a circular por nossas ruas e avenidas.
 
(Não é irônico que um carro zero transforme-se em lata velha depois de 36 meses de uso em Campo Grande e na maioria das cidades brasileiras?)
 
Se o prefeito quiser mesmo fazer a coisa certa – juntamente com os vereadores – devia explicar para a população quais as razões que levam a prefeitura todos os anos executar a famosa “Operação Tapa-Buracos”. Deviam começar dizendo o seguinte: administradores espertos preferem fazer um trabalho chulé porque assim a malha asfáltica derrete facilmente com as chuvas ou com o tráfego pesado e isso transforma o negócio de manutenção da malha num presente dos céus.
 
Não é preciso ser engenheiro ultra-especilizado para saber que existem na praça vários tipos asfalto. Se ele for de primeira qualidade e tecnicamente bem planejado (não vou explicar o que isso significa) tem longa durabilidade. Claro, ele é mais caro e isso possivelmente reduziria ao longo dos anos a quilometragem da malha asfaltada na cidade.
 
Em compensação, haveria menos gastos com o “Tapa-Buracos”. Esses recursos reinvestidos teriam menos impacto eleitoral, mas daria à população um serviço de qualidade economicamente sustentável (detesto essa palavra!), diminuindo inclusive o propinoduto com a maquiagem fajuta que se faz em nossas ruas.
 
Avanço mais um pouco: não seria o caso de a prefeitura e a Câmara realizarem audiência pública com a finalidade de estabelecer um código de conduta para o recapeamento e implantação de malha asfáltica pelo critério de qualidade e não de quantidade? Isso poderia render menos votos no primeiro momento, mas a cidade ganharia em desenvolvimento urbano.
 
Asfalto bom, decente, consistente, lisinho como papel, deve durar no mínimo 5 anos, ou seja, quase o mesmo tempo de duração de um mandato de prefeito. Se Olarte falar grosso com as empreiteiras e exigir tempos mínimos de durabilidade do recapeamento e de novas pavimentações estará prestando bons serviços à sociedade. Caso contrário, ele manterá o mesmo jogo, usando cartas velhas com novos parceiros. Não vai dar.
 
(*Dante Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Marco Eusébio, 23 Fevereiro 2015 às 18:30 - em: Falando Nisso


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