Anitta bem na sua cara Marcia Scherer (*)

Anitta bem na sua cara

Quem aí já escutou a Anitta? Não estou perguntando quem ouviu suas músicas, estou perguntando quem escutou o que ela tem para falar, em entrevistas, nas letras de seus sucessos. Você já a escutou?
 
Me incomodou muito essa polêmica sobre a Mulher do Ano, onde várias pessoas julgaram que a cantora, empresária, mulher, Anitta não merecia o título.
 
Eu gosto da Anitta. Pra mim ela personifica um novo tipo de feminismo, se é que posso falar assim. Ela é dona do seu nariz, devidamente moldado por um procedimento cirúrgico, fala o que pensa e, principalmente, pensa. Ela é uma mulher estratégica, sua carreira é conduzida por ela mesma, todos os seus passos são medidos milimetricamente. A carreira vai bem, obrigada, inclusive cruzando fronteiras.
 
Ah Marcia, mas ela vive de explorar o corpo, é uma mulher objeto. 
Objeto de quem?
 
Dela mesma, meus queridos. Observem a letra do sucesso que a lançou, Show das Poderosas: "Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei | Quando começo a dançar, eu te enlouqueço, eu sei | Meu exército é pesado, e a gente tem poder | Ameaça coisas do tipo: Você!"
 
Essa letra, que é dela, é tipo um foda-se, eu faço o que eu quiser, se não gostou vaza!
 
Tem também a letra de 'Na sua cara', sucesso internacional: "Se você não vem, eu vou botar pressão | Não vou te esperar, tô cheia de opção | Eu não sou mulher de aturar sermão |Me encara, se prepara | Que eu vou jogar bem na sua cara". Definitivamente Anitta não é do tipo de mulher que é usada. É ela quem usa.
 
Uma das coisas que admiro na Anitta é sua capacidade de resposta. Ela usa a impulsividade típica da juventude com maestria, transformando o que na boca de outras pessoas da sua idade seria um desastre, em verdadeiras aulas de humanidade e inteligência.
 
Aliás, Anitta, como todo jovem, é habitue das redes sociais e parece estar sempre ligada em tudo que envolve seu nome, interagindo e respondendo na lata às críticas e às mentiras.
 
Recentemente um pastor e vereador do Rio de Janeiro a chamou de "vagabunda de quinta" em suas redes sociais. A resposta da artista veio rápida e certeira, confira alguns trechos da resposta: "Sou cantora, empresária, compositora, coreógrafa e outros negócios (que não são da indústria pornográfica) mas que são tantos que teria que ficar algumas horas aqui escrevendo. Dou emprego pra aproximadamente 50 famílias diretamente... Sei como é importante e estratégico usar um nome de notoriedade na mídia para ganhar e espaço e assim começar a divulgar seu trabalho próximo ao ano eleitoral". E a repercussão negativa ao pastor vereador crítico foi tanta que ele se viu obrigado a pedir desculpas (bem feito, quem mandou julgar).
 
Anitta nasceu Larissa, cantava desde os oito anos em um coral da igreja católica, fez curso técnico de administração e já estagiou na Vale. Sempre lutou pela carreira e foi no funk que fez sucesso.
 
Sei que muitas das críticas negativas contra ela vêm do uso e abuso da sensualidade em sua carreira. Ela usa roupas provocantes, que mostram tudo e um pouco mais, ela rebola e se movimenta de um jeito que chega a ser lascivo e as letras da maioria das suas músicas não são das mais pudicas.
 
Mas como já a ouvi falando, esse é o nicho que ela escolheu para fazer sucesso, porque ela admite que sempre quis ter sucesso, mais um ponto pra ela, não é hipócrita.
 
Muitas dessas críticas em relação ao vestir e dançar da cantora vêm do fato da nossa sociedade não admitir que uma mulher decida o que quer ser, porque Anitta não é mulher manipulada ou subjugada, ao contrário, ela se veste, fala e age como bem entende.
 
Pra mim esse julgamento é o mesmo que ocorre sobre todas as outras mulheres: se ganhou aumento deve ter dado pro chefe; olha só a roupa dela, depois reclama se for estuprada; essa mulher é uma louca, gritou comigo porque eu a interrompi; e por aí afora.
 
Assessoro uma advogada, política, que tem uma personalidade forte, a dra. Ritva. Ela é uma mulher que está sempre de salto alto, decotes, roupas justas, é uma mulher exuberante. Algumas pessoas (homens) já vieram me falar que tenho que mudar o jeito dela, onde já se viu política de salto alto, daquele jeito. Mas gente, ela é assim, é o que a faz única e é o que a diferencia e não vamos mudar nenhuma mulher porque alguns homens acham que ela não deve ser assim. Jamais!
 
Entenderam a relação com a Anitta? A mulher conquistou sucesso, dinheiro, tudo com seu talento artístico e sua visão empresarial, aí a sociedade vem dizer que ela não merece prêmio e o que é mais cruel ainda, vem querer comparar com a professora que morreu salvando crianças, como se só uma mulher no mundo pudesse ser homenageada. Como se só quem segue o papel que a sociedade quer de mulher (professora, cuidando e salvando crianças) pudesse ser digno de prêmio.
 
Gente, é óbvio que a professora merece todas as homenagens do mundo, foi uma heroína. Mas a Anitta também merece, ela é, sim, digna de receber prêmio, ela merece respeito. É injusto e cruel comparar as duas mulheres.
 
Então antes de odiar a Anitta, escute o que ela tem a dizer, sem preconceitos, sem se ater apenas ao que ela canta (que não faz meu estilo), à roupa que usa. Deixe o preconceito de lado e escute a empresária, a artista de sucesso, a mulher do ano, você vai se surpreender e, provavelmente, vai concordar que ela também merece o prêmio.
 
(*Marcia Scherer, publicitária e especialista em marketing político é sócia do Bureau de Planejamento, é briguenta, fala o que pensa e ama Campo Grande)


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Postado por: Marcia Scherer (*), 30 Novembro 2017 às 15:30 - em: Falando Nisso


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