Ainda censuram filmes em MS Aírton Raes (*)

Ainda censuram filmes em MS

Dia 10 de maio é comemorado o Dia Internacional do Público. A Carta dos Direitos do Público, a Carta de Tabor, é considerada a “declaração dos direitos humanos” em relação a acesso ao conteúdo audiovisual. Diz que qualquer cidadão tem o direito a ter acesso a todo conteúdo, sendo vetado qualquer tipo de censura. A ideia é que a humanização só é possível com ampla diversificação do conteúdo. O acesso ao conteúdo também é essencial para a formação de público e com isso, aumento na qualidade dos produtos audiovisuais produzidos pelos autores. A carta também prega que o conteúdo audiovisual tem que chegar ao maior número de pessoas.
 
Entretanto em Mato Grosso do Sul, existe um pensamento vigente de que apenas alguns filmes devem ser mostrados ao público, como se este não tivesse capacidade de formar suas próprias opiniões. Essa censura vem travestida como “controle de qualidade”, onde uma pessoas escolhe o que é “bom” para ser exibido e “ruim” para ser engavetado e nunca exibidos.
 
Imagine ir à uma pizzaria e lhe informarem que apenas a pizza de rúcula com tomate seco está disponível e que o cliente não irá gostar da pizza de calabresa. Esse é o pensamento com os filmes produzidos no Estado. Apesar de ter atingido a meta de 50 filmes em três anos, 90% desses filmes correm o risco de não chegarem ao público ou ser exibido uma única vez para uma platéia restrita, impedindo o direito do sul-mato-grossense de se enxergar na tela.
 
O problema de exibir poucos filmes é a segregação de nossos cineastas e criar duas categorias diferentes: A primeira, o cineasta que é digno de ser exibido, cuja arte é perfeita e inatingível; a segunda categoria é a dos cineastas “classe B”, que não são dignos de serem mostrados para o público.
 
Com isso, se cria uma elite de poucos cineastas e do outro lado uma imensidão de criadores com pouca autoestima e desestimulados a produzir. Esse método de exclusão é falho também no fator de seleção. Quem define que filmes são dignos de serem exibidos? Qual é a qualidade mínima de um filme para ser mínimo? Quem criaria esses parâmetros? Poucas pessoas decidiriam na base do “achismo” e gosto pessoal o que milhares de pessoas são dignas de assistir.
 
Esta mentalidade também permeia na escolha de projetos de filmes para serem produzidos. Durante a seleção do FMIC 2013 (Fundo Municipal de Incentivos Culturais de Campo Grande), projetos de filmes tiveram escritos em suas avaliações de que o público campo-grandense não era apto para assistir o filme proposto. Ou seja, obras são censuradas antes mesmo de nascerem, sem nenhum embasamento ou explicação.
 
O público tem o direito sagrado de assistir o que é produzido no Mato Grosso do Sul, refletindo e criando suas opiniões sobre o que assistiu. É preciso dar ao público o direito de gostar ou não do que é realizado em Mato Grosso do Sul.
 
(*Airton Raes Fernandes é jornalista, cineasta e diretor do Colegiado Setorial de Audiovisual de Campo Grande - airtonraes@gmail.com)


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Postado por: Aírton Raes (*), 25 Abril 2014 às 10:58 - em: Falando Nisso


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