Agosto é o mês do desgosto
Minha modesta avaliação do atual cenário político brasileiro é a seguinte: enquanto não prenderem Lula ninguém vai sossegar. Ele é o alvo. O resto é encenação. Não adianta colocarem Eduardo Cunha no foco. Esse virou boi de piranha do momento e, por isso mesmo, vai causar muitos problemas. Mas vai sobreviver. Renan Calheiros tem séculos de aprendizagem em submersão. Michel Temer viajou para Nova Iorque. Dilma naufraga e dificilmente conseguirá atravessar o mês de agosto.
O grande problema, contudo, é Lula. Nos últimos seis meses o Brasil vive uma tormenta por causa desse homem. O centro de todo o dilema é esse: o que o sistema pode fazer com esse cara¿ Ele fez e aconteceu em oito anos de governo, colocando o País no maior buraco de sua história. Julga-se dono do País e tenta manter a presidente sob sua tutela. Complicado.
A popularidade e a euforia da sociedade no passado deram a ele quase um poder sobrenatural. Com isso, veio o sentimento de onipotência e impunidade, dois ingredientes que enlouquecem qualquer ser humano.
E foi assim que ele ultrapassou os limites da ética e da responsabilidade, achando natural aparelhar o Estado para a riqueza de alguns próceres partidários e garantir musculatura para a chamada “base aliada”. Um projeto de poder para durar mais de 30 anos.
Só que com a reeleição de Dilma – um estelionato de grandes proporções -, a criatura deparou-se com a verdadeira herança do criador, e vem tentando aplicar um choque de austeridade nas contas governamentais para poder respirar lá na frente, e, talvez, ganhar maior independência do criador. Não será fácil.
Lula percebeu o risco: o ajuste pode ser um fracasso, a crise política poderá tornar a governabilidade insustentável e sua chance de voltar à presidência aos poucos se esvairá pelos dedos, sem contar o fato de que se terá que providenciar a construção de inúmeras penitenciárias para abrigar vips e celebridades do mundo político.
Se os últimos acontecimentos que vem ocorrendo em Brasília fosse um filme a trama giraria em torno de uma grande conspiração palaciana para derrubar a presidente. Aparentemente, os grandes condottieri seriam protagonizados por Lula (o conspirador-mor), coadjuvado por Temer, Renan e Cunha.
Atrás deles, as milícias se movimentando incessantemente para garantir que a saída da mandatária fosse suave, embora com certa grandiloqüência, e a solução de sua substituição recompusessem no jogo os personagens de sempre para que o público esperasse a continuação da nova temporada.
O problema é que a única peça que não se encaixa nesse roteiro é Lula. A solução é tirá-lo de cena e transformá-lo em personagem secundário. Daí a abertura de investigação aberta pela Procuradoria da República do Distrito Federal para apurar a extensão dos negócios privados do ex-presidente em conluio com empreiteiras como Odebrechet e Camargo Correa.
O resultado do processo é incerto, mas aponta o caminho: a cena de Lula dentro de um camburão da PF para conversar com o Juiz Moro em Curitiba hoje é o sonho de consumo de 9 entre dez brasileiros.
O raciocínio é simples: se Dilma cai, seja lá quem for que assuma a presidência ou qual solução institucional encontrada para o imbróglio, Lula avança um ponto à frente liderando uma oposição feroz contra o governo de plantão, ganhando espaço para vencer em 2018.
Esse é o nó górdio da questão. Ele atrapalha as saídas racionais da crise porque é um componente que não combina com a idéia de final feliz do roteiro. Ao contrário: sua presença gera um anticlímax perfeito para confrontos de rua. O País poderá passar por um tremendo revertério de proporções épicas.
Agosto é o mais cruel dos meses. O clima é árido, quente e triste. Esse é um período em que a história traz maus augúrios, lembrando o suicídio de Getúlio, a renúncia de Jânio, as mortes de Juscelino Kubitschek, Miguel Arraes e Eduardo Campos.
Pelas promessas que começam a se adensar, mais uma vez as massas vão para as ruas rufar os tambores, tensionando ainda mais o ambiente num quadro econômico extremamente perverso. Espera-se que não ocorram tragédias. Mas em momentos como esses ser otimista significa perder o contato com a realidade.
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: , 20 Julho 2015 às 17:20 - em: Falando Nisso