A verdade sobre a mentira Dante Filho (*)

A verdade sobre a mentira

Logo que o deputado Eduardo Cunha acatou pedido de impeachment da presidente Dilma, na semana passada, e mandou que a carruagem seguisse para o inferno, o telefone começou a tocar: “e agora, o que vai acontecer?”. Nesses momentos, tenho uma resposta padrão: “tudo; inclusive nada”. Ou seja: o momento não é para conclusões apressadas. Devemos observar o movimento, assistindo de camarote como as damas e os cavalheiros vão se comportar na hora da dança. 
 
Espera-se, contudo, que os participantes não ateiem fogo às vestes nem algum desavisado coloque fogo no salão. Oremos.
 
Só podemos dizer que as coisas começaram mal. Cunha deu o primeiro passo; Dilma tentou um improviso, colocando-se na posição de carola. Cunha chutou a canela: chamou a presidente de mentirosa, afirmando que ela faz uma coisa no escurinho do cinema e depois diz outra quando está sob os holofotes. 
 
“Mentira” foi a palavra mais ouvida. O fato é que a verdade é uma só: todos mentem, todos dissimulam, pois parte-se do pressuposto de quem ganha a parada é aquele que conseguir impor sua narrativa ao público presente. Verdade e mentira são detalhes nesse ambiente nebuloso de quinta categoria.
 
Há um grave problema nessa história: Cunha e Dilma não são personagens que possam reivindicar qualquer coisa como algo próximo da credibilidade e da confiança. Ambos escolheram o caminho do ilusionismo para manter-se no poder.
 
Dilma contou tantas lorotas na última campanha eleitoral que, sinceramente, fica difícil acreditar na pureza de sua alma. Cunha é um fingidor patológico.  Não há santos nessa novela. As mentiras que ambos contaram ao longo de Dilma II não os qualificam para qualquer recomendação ao prêmio de responsabilidade pública do ano. 
 
Quem se dedica aos estudos de ética e metaética tem material de sobra para debater a questão: “mentir é sempre errado?”. Claro que qualquer ser humano mentiria se fosse para salvar vidas humanas. Mas esse não é o caso de Dilma e Cunha. Eles se esforçam, juntamente com seus respectivos séquito de militantes e apoiadores, para ver quem conta a mentira mais aceitável pela sociedade com intuito de salvarem a própria pele. 
 
Ambos se colocam no embate para serem escrutinados sobre quem mente melhor, com mais habilidade e com maior eficiência no quesito – digamos – cara de pau. A se prolongar no tempo essa querela, veremos as parcelas mais ativas da militância política nas ruas defendendo bandeiras antagônicas sobre o impedimento de Dilma. 
 
Para o PT o melhor é fazer dessa questão será uma polarização facial com o deputado Eduardo Cunha. “Ele contra ela. Ela contra ele”. Tal coisa despolitizaria o debate, personificando as divergências. O impeachment seria apenas algo tangencial à luta de duas personalidades. Enfim, o velho jogo de cena.
 
Nesse campo, mais uma vez, as oposições – PSDB à frente – se comportam como birutas de aeroporto, não conseguindo sair do circulo vicioso nem criando uma agenda consistente para dar solução eficaz ao problema. 
 
Seguindo do jeito que está logo, logo, as pessoas estarão nas ruas distribuindo sopapos, a militância radical (de ambos os lados) ficará tentada a resolver as divergências à bala, o nheco-nheco da opinião publica ficará acirrado, tal como aconteceu na campanha eleitoral passada, num processo dramático, traumático e com conseqüências inesperadas de longo prazo. O País poderá cindir-se ao meio. 
 
Verdade verdadeira: para o PT (Lula, Rui Falcão etc) interessa uma saída traumática porque o partido não sabe fazer outra política que não seja a da vitimização. O coitadismo é especialidade petista.  Se Dilma, num ato de bom senso, renuncia ao mandato, ela retira esse discurso (o da eterna vítima das elites golpistas) da boca do partido, podendo colocar tudo a perder em 2018. 
 
Mas existe ainda o imponderável. Nesse caso, é provável que Delcídio, André Esteves, Marcelo Odebrect etc. etc. sejam os elementos de encaixe desse processo altamente complexo, podendo implicar Lula e Dilma de maneira determinante na Operação Lava Jato. Se isso acontecer, a balança do impedimento pende e o desfecho torna-se previsível. 
 
Portanto, teremos um fim de ano diferente: expectativa, tensão, insegurança, traições e conspirações, tudo no mesmo baile, com a orquestra tocando fora do tom e os passantes tropeçando nas pernas uns dos outros. Será inesquecível.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 

 



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Postado por: Dante Filho (*), 07 Dezembro 2015 às 16:00 - em: Falando Nisso


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