Dirceu Peters (*)
A requalificação do Centro de Campo Grande
É pauta recorrente em Campo Grande a discussão sobre as intervenções no centro da cidade, notadamente na rua 14 de julho, para a requalificação do centro urbano da cidade. Arquitetos, urbanistas, comerciantes e a população que vive e trabalha na região aguardam uma solução para a questão que traga modernização com qualidade para a área.
Infelizmente, temos observado que o debate sobre o assunto não chega às mesas de decisão do poder público. Em recente audiência pública realizada na Câmara Municipal muitos foram os questionamentos: quanto tempo vai demorar a obra? Em que meses do ano ela vai ser realizada? Vale a pena investir este volume de recursos (R$ 56.000.000,00) no centro com tantas obras paradas na cidade?
O papel do planejamento das cidades tem sido muito questionado por situações como essa. O montante gasto em projetos excede os R$ 2.500.000,00, de acordo com dados da prefeitura, com o argumento de que sem projeto não existem recursos. Correto, mas antes do projeto físico o conceito deveria ter sido exaustivamente debatido, no mínimo com os comerciantes, com as entidades de classe e com os vereadores. Essa falta de dialogo com a sociedade é que faz sucessivos planos serem abortados causando um enorme prejuízo ao erário público.
O assunto do centro da cidade de Campo Grande vem sendo debatido desde 1978 quando do plano Jaime Lerner, que trazia um calçadão no centro e corredores cobertos nas atuais calçadas proporcionando conforto térmico e abrigo contra as chuvas, o que não acontece no projeto atual.
Outras tentativas houveram de intervenção nessa área, mas o principal entrave são as vagas de estacionamento. Tenho me manifestado há tempos sobre a necessidade do poder público criar mecanismos que incentivem a iniciativa privada construir estacionamentos verticais. Isso ocorreria da mesma forma que se dá incentivos para indústrias se instalarem em Campo Grande, esses incentivos podem ser, por exemplo, a isenção de ISS da construção e do empreendimento por um determinado período, e a mudança de índices urbanísticos que venham a viabilizar os empreendimentos.
A habitação popular deve também receber incentivos para ocupar o centro da cidade, já que este é o que melhor infraestrutura oferece. Perdemos uma grande oportunidade para que isso acontecesse nos terrenos da antiga estrada de ferro, mas mais uma vez o transporte individual foi privilegiado.
Em 2012, o poder público exigiu que os comerciantes retirassem suas fachadas metálicas para que houvesse menos poluição visual e o centro ficasse com aspecto mais leve. Eles cumpriram sua parte, mas o poder público nada fez, ou seja, não cumpriu sua parte, o que se pretende agora com esse projeto de requalificação da 14 de julho.
Esse exemplo do centro de Campo Grande mostra a necessidade de que os assuntos urbanos sejam debatidos intensamente para que todos os agentes saibam exatamente o que vai acontecer, caso contrário continuaremos fazendo planos, usando recurso sem nenhum retorno para a sociedade.
(*Dirceu Peters, arquiteto e urbanista, é diretor do Instituto Diálogo em Campo Grande)
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Postado por: Dirceu Peters (*), 16 Julho 2015 às 13:30 - em: Falando Nisso