Heitor Freire (*)
A questão do medo
“O medo não evita a morte; o medo evita a vida”
Naguib Mahfuz, escritor egípcio.
O medo é uma das sensações mais perigosas que uma pessoa pode experimentar. Ele se infiltra insidiosamente, como um vírus, e permanece oculto, difundindo sua energia negativa. O antídoto para o medo é a fé, a alegria de viver consciente e a gratidão. Temos dentro de nós mesmos uma infinidade de talentos e a capacidade de superá-lo.
Talvez o medo seja, juntamente com o ego, o nosso pior inimigo. Ele é silencioso e invisível, embora potencialmente agressivo. O impacto que o medo provoca em nossas vidas é o da destruição, levando à estagnação, raiva, inveja e a muitas outras emoções negativas. Com a identificação de suas raízes, começa o seu desmonte. Paradoxalmente também, podemos crescer por meio do medo, quando ele se constitui num desafio a ser vencido, o que estimula a sua superação.
Em certos casos, o medo pode provocar o encolhimento nas pessoas, levando à solidão existencial. Essa solidão só gera mais dor e sofrimento, uma sensação de desconforto, de incompreensão, de abandono, num círculo vicioso que se retroalimenta negativamente. Por isso, o melhor antídoto é a fé, a confiança, a alegria, a vontade de enfrentá-lo. Quando entendemos que nenhum de nós está sozinho, que a nossa força interior é real, o primeiro passo é encontrarmos em nós mesmos a energia necessária para começar a vencer o monstro que vive dentro de nós. A persistência e a perseverança são indispensáveis nessa batalha.
Esse tema já interessou muita gente, estudiosos, psicólogos, filósofos, etc.
Numa página do WhatsApp, publicada pelo professor Elton Luiz Leite de Souza, li uma citação do filósofo Baruch Spinoza a esse respeito, em seu “Tratado teológico-político”: “No prefácio, Spinoza descreve o fenômeno da superstição. No fundo de toda superstição vigora o medo. Não o medo que pode nascer em quem enfrenta perigos reais, mas o medo ressentido que prostra. Segundo Spinoza, é o medo o sentimento que melhor define a condição de escravo. Esse medo alimenta a credulidade. Credulidade não é a mesma coisa que fé. A fé autêntica não nega o conhecimento, já a credulidade é negacionista da ciência.
A credulidade não é a fé, embora tente se apresentar como se fosse. A credulidade é rasa, rasteira: por não conseguir alcançar a profundidade do sentido que há nos textos sagrados, ela imagina que berrando e gritando se fará ouvir pelo Espírito Santo”.
Estamos, assim, em ótima companhia com a nossa tese de como o medo é um sentimento nefasto e escravizador.
Juliana Spinelli Ferrari, uma colaboradora do projeto Brasil Escola, assim define o medo:
"Para além das definições da palavra, o medo é uma sensação. Essa sensação está ligada a um estado em que o organismo se coloca em alerta, diante de algo que se acredita ser uma ameaça. O medo é um estado de alerta importante para a sobrevivência humana. Uma pessoa sem medo nenhum pode se expor a situações perigosas, arriscando a própria vida, sem medir as possíveis consequências trágicas de seus atos. Como o organismo reage ao medo? O medo é uma sensação derivada da liberação de hormônios como a adrenalina, que causam imediata aceleração dos batimentos cardíacos. É uma resposta do organismo a uma estimulação aversiva, física ou mental, cuja função é preparar o sujeito para uma possível luta ou fuga. Antes de sentir medo, a pessoa experiencia a ansiedade, que é uma antecipação do estado de alerta. Entre outras reações fisiológicas em relação ao medo, podemos citar o ressecamento dos lábios, o empalidecimento da pele e as contrações musculares involuntárias como tremedeiras, entre outros."
Então aí temos duas abordagens distintas sobre o medo, uma física e outra metafísica.
Há uma outra, que decorre do estudo filosófico da evolução espiritual e que ensina três passos: o pensamento reto, a ação correta e a maneira de encarar a vida. Ou seja, uma ação coerente entre o que se pensa, o que se faz e como se faz. O prato está na mesa, cada um pode se servir à vontade.
Como vimos inicialmente, “O medo não evita a morte; o medo evita a vida”, segundo escreveu o escritor egípcio Naguib Mahfuz.
Assim, a disposição de enfrentar o medo de forma definitiva e de frente contribui para nossa segurança e nossa qualidade de vida. Acredito que o medo decorre do desconhecimento da verdade básica: a presença de Deus em cada um de nós. Quando compreendemos que todos somos criados por Ele, naturalmente a confiança se instala e nos estruturamos para vencê-lo.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 24 Fevereiro 2024 às 08:00 - em: Falando Nisso