A questão da palavra Heitor Freire (*)

A questão da palavra

A palavra é o meio próprio e natural de expressão do ser humano, que é a única criatura que possui esse atributo. E a linguagem é o meio pelo qual a palavra se manifesta. A linguagem é, portanto, uma característica eminentemente humana.
 
Para o linguista e filósofo Noam Chomsky, na mente há um órgão da linguagem que todos os seres humanos – e apenas os seres humanos – têm. 
 
E desde pequenos, pelo convívio diário com os pais e demais parentes, começamos a falar sem nos dar conta da importância da palavra, do seu significado e do que representa como fator de evolução mental e espiritual. A palavra faz parte do nosso patrimônio genético. As mudanças na sociedade se refletem na linguagem falada e escrita.
 
Ricardo Lima, titular do Departamento de Estudos da Linguagem da UERJ, escreveu: “A língua é viva porque está sendo usada sempre, em vários contextos, em várias situações, o que faz com que ela tenha novos usos e novas possibilidades. Isso acontece tanto no espaço quanto no tempo. No espaço geográfico, diferentes regiões; no tempo, em diferentes situações que mudam na sociedade. Assim como a sociedade vai mudando, a língua acompanha essas mudanças da sociedade”. 
 
Como ele ressaltou, a língua está sempre se modificando ao longo do tempo e do espaço. Ela absorve novas palavras, assume gírias e, de tanto ser usada, pode até contrair expressões. Isso acontece a todo momento, mesmo que de forma imperceptível. Por exemplo, hoje, raramente se usa o pronome nós; ele foi substituído por “a gente”. É a gente pra cá, a gente pra lá, a gente vai fazer, a gente fez, etc., o que acaba, a meu ver, empobrecendo a língua.
 
“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. E Deus disse: ‘Faça-se a luz’, e a luz foi feita”. Com estas palavras do livro do Gênesis, Deus nos dá uma lição clara do poder da palavra. E nos mostra que através dela, podemos fazer tudo. TUDO mesmo. É só saber utilizá-la. “Pelas vossas palavras sereis justificados; pelas vossas palavras sereis condenados” (Mateus 12:37). 
 
A falta de uma orientação verdadeira sobre o significado da palavra resulta no seu uso inadequado. Devido à familiaridade e facilidade em falar deixamos de nos beneficiar de um poder extraordinário que nos foi concedido pelo nosso Pai. Por meio da palavra foi criado o universo, e através da palavra cada um de nós cria o seu próprio universo, sabendo ou não, querendo ou não. "A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto." (Provérbios 18:21)
 
O poder criador da palavra vai aos poucos moldando a nossa vida. Quando manifestamos a realização de um desejo e no instante seguinte, por outro motivo, condenamos alguém que obteve o que queríamos, esse conjunto de contradições – uma declaração positiva seguida de outra negativa – cria um estado de contrariedade que nossa mente não consegue entender. Ela não é seletiva, não tem senso de humor, não sabe que estamos falando “só de brincadeirinha”, que é “só força de expressão”. 
 
E assim, perdemos a oportunidade de utilizar a palavra no seu mais profundo poder, que é o da realização daquilo que desejamos. É necessário – mais do que necessário, indispensável – o nosso despertar para a utilização plena de todo o potencial com que fomos dotados.
 
Vamos pensar antes de falar, para só falarmos aquilo que de fato queremos ver realizado. E assim, conscientemente – a palavra-chave é consciência – acordados, estando presentes a cada momento, evitemos agir de modo automático.
 
Outro ponto a ser destacado é quanto à pronúncia adequada das palavras, e também quanto ao uso das palavras certas, sem utilização de chavões, de termos chulos nem de gírias, pois estas tendem a ter interpretações que acabam confundindo a nossa mente. O uso adequado das palavras nos proporciona também uma evolução espiritual. 
É um fator de enriquecimento mental. 
 
Um ponto fundamental no que se refere à palavra é o cumprimento daquilo que se prometeu. “Ninguém é obrigado a se comprometer, mas feito isso, obriga-se pela palavra ao seu cumprimento”.
 
Reflitamos.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 15 Abril 2023 às 09:15 - em: Falando Nisso


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