A questão da consciência Heitor Freire (*)

A questão da consciência

A exata localização da consciência em nosso corpo é um mistério milenar que provoca uma discussão interminável. Muitas teses e teorias têm sido desenvolvidas sobre este assunto, determinando que a consciência está situada ora no coração, ora no cérebro, ora nas ondas neurais, etc.
 
E aqui não me refiro aos termos consciente, inconsciente, supra consciente e pré-consciência, que são tema de estudo da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria. Me refiro à nossa consciência propriamente dita.
 
Descobri, no estudo da Doutrina Espírita, uma resposta que me pareceu a mais lógica de todas as que pesquisei, estudei e aprendi: ela pressupõe que a consciência é um atributo do espírito, e como tal, abriga e registra todos os nossos atos, pensamentos, sentimentos, atitudes, palavras e comportamentos. Sendo assim, quando desencarnamos, o nosso espírito, lastreado pela consciência, leva na sua essência o caldeamento de toda nossa encarnação.
 
E como testemunha original, a consciência tudo registra.
 
Esse conhecimento, no meu caso, ao mesmo tempo que me abriu o entendimento para uma verdade fundamental, transmite segurança e responsabilidade pelos nossos atos, que nos confere a obrigação de pautá-los pela vigilância total e, ao mesmo tempo, a compreensão plena de seus efeitos. A verdadeira consciência decorre diretamente da individualidade. É um caminho sem volta. E propicia a libertação do ser.
 
Sendo assim, a consciência é inata ao ser humano, nasce com a sua criação, mas demanda um trabalho individual, disciplinado e permanente para sua manifestação e continuidade. É nossa companheira por toda a eternidade.
 
“A maior aventura do homem na carne consiste no esforço, bem equilibrado e sadio, de ultrapassar as fronteiras da autoconsciência penetrando nos domínios imprecisos da consciência embrionária da alma, em um esforço, de todo seu coração, para alcançar a região fronteiriça da consciência do espírito – esse, o contato com a divina presença” (Livro de Urântia).
 
A consciência implica numa grande responsabilidade porque conduz ao entendimento de que a vida é aqui e agora. O passado já se foi, e o futuro não é hoje. Esse despertar não aceita adiamentos. Nem faz de conta. Sacode todo o ser, e não permite lero-lero.
 
É o acordar do sono letárgico que envolve a maioria das pessoas, mostrando de forma muito clara o compromisso de cada um consigo mesmo e com Deus. O indivíduo consciente deixa de fazer parte do rebanho, e assume o risco de pensar com a própria cabeça.
 
Esse despertar nos ensina a evitar todo radicalismo e sectarismo de qualquer natureza, religiosa, filosófica ou política. 
 
E com isso, passamos a entender que verdadeiramente somos todos irmãos, oriundos da mesma fonte e destinados à evolução constante. E também a trilhar o caminho mostrado por Jesus.
 
E passamos também a saber que devemos respeitar tudo e todos. A não julgar. Nem condenar. E entender que nada acontece por acaso, e tudo decorre dos nossos atos, portanto, devemos assumir nossas responsabilidades. É compreender que a vida por si só é um milagre e nos permite a oportunidade de contribuir com nossa inteligência e consciência na construção divina da eternidade.
 
E assim também devemos entender que a esperança é o fator de alimentação da fé, fortalecendo e motivando a consciência. E esperança exige fidelidade. 
 
Temos que ter coragem de conquistar a liberdade de ser nós mesmos, sem interferências, aprendendo a ouvir e usar o discernimento que, nas palavras de Krishnamurti, é o primeiro passo para a evolução espiritual.
 
É preciso também saber conviver com opiniões contrárias e buscar o embasamento para as nossas próprias ideias. Segundo José Saramago, o grande escritor português, “o problema não é que as pessoas tenham opiniões, isso é ótimo. O drama é que as pessoas têm opiniões sem saber do que falam”. E hoje, com as redes sociais, é o que mais se vê.
 
Não devemos repetir nada que não tenha passado pelo crivo da nossa própria consciência, e não falar apenas para impressionar os outros. Precisamos aprender a observar o silêncio. 
 
Temos que aprender que cada um é o fiador de sua própria vida, não dependendo do aval de ninguém. E assim conquistar a nossa verdadeira independência.
 
A consciência própria do ser é a grande conquista de cada um. E lembremos de que nada acontece por acaso. Tudo tem uma relação e uma razão de ser.
 
E assim, quem sabe, possamos despertar a consciência do ser que se encontra dentro de cada um de nós, concorrendo para que a paz e o amor reinem em nosso lindo planeta azul.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 13 Abril 2024 às 08:00 - em: Falando Nisso


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