Wagner Cordeiro Chagas (*)
A primeira mulher a disputar o Governo de MS
O ano era 1994. O Brasil tinha uma nova moeda, o Real, criada pelo presidente Itamar Franco (PMDB) juntamente com a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que poucos meses depois renunciaria para ser o candidato do governo e do PSDB à Presidência da República. A população brasileira aos poucos começava a sentir o gosto de preços mais acessíveis de diversos produtos, mas ao mesmo ainda sofria com o desemprego, concentração de renda, entre outros problemas que há muito tempo a acompanhava.
Foi nesse contexto que em Mato Grosso do Sul ocorreu a quarta eleição para escolha de governador. No entanto, o pleito daquele ano teve duas situações inéditas no estado: foi a primeira vez em que os eleitores sul-mato-grossenses votaram simultaneamente para governador e presidente; e, também pela primeira vez, tiveram a opção de votar numa candidata a governadora, uma professora de Língua Portuguesa, da Rede Estadual de Ensino, residente na cidade de Ribas do Rio Pardo, por nome Rita de Cássia Gomes Lima, candidata do Prona, a legenda do famoso médico Enéas Ferreira Carneiro (aquele do bordão “meu nome é Enéas!”) que pela segunda vez disputava a vaga de presidente do Brasil.
Mulher em cargo político não era mais novidade naquela época em Mato Grosso do Sul, mas também não tinha representação de peso. Depois de eleger duas prefeitas pelo PDS, em 1982, Neusa Maia (Brasilândia) e Marieta Pereira (Angélica); teve a primeira mulher no comando de Campo Grande, a professora Nely Bacha (PMDB), por três meses em 1983. Nas eleições de 1986 foram eleitas as duas primeiras deputadas estaduais: Marilu Guimarães (PFL) e Marilene Coimbra (PDS). Naquele mesmo ano teve a primeira candidata a vice-governadora, a líder comunitária de Corumbá, Eva Maria Granha, na chapa do professor universitário Luiz Landes Pereira (PT). Em 1990, teve duas candidatas a vice-governadora, Irene Kemp, companheira do candidato a governador pelo PT, Manoel Camargo Bronze, e Celina Jallad (PMDB), filha do então senador Wilson Barbosa Martins (PMDB), como candidata a vice-governadora na chapa de Gandhi Jamil (PDT). Somente em 1994 uma representante do sexo feminino se dispôs a conquistar a chefia do poder Executivo estadual.
Professora Rita de Cássia ficou em quarto lugar, atrás dos candidatos Pedro Teruel (PT), Levy Dias (PPR) – nome do então governador Pedro Pedrossian (PTB) - e de Wilson Barbosa Martins (PMDB), o candidato eleito em primeiro turno nas eleições daquele ano. Recebeu 21.773, o que deu pouco mais de 2% dos votos válidos.
Consegui o contato com Rita de Cássia Lima por meio do Facebook, após várias tentativas, sem sucesso, de encontrar alguma informação sobre sua candidatura ao governo em jornais. Conforme ela me informou, a ideia do Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, era fazer uma campanha diferente das outras, com pouquíssimos recursos financeiros, mas com uma ideia a seguir: o da ordem e do patriotismo.
Rita de Cássia Gomes Lima não obteve êxito, mas entrou para a história de Mato Grosso do Sul como a primeira mulher a querer administrar o Estado. Depois daquela campanha ela integrou as legendas do PSD, PP, PT e PSDB. Hoje é professora aposentada e diz não querer mais participar de disputa política.
(*Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD, professor em Fátima do Sul e autor do livro "As eleições de 1982 em MS" - Life Editora/2016)
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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 12 Julho 2018 às 12:45 - em: Falando Nisso