Heitor Freire (*)
A importância do invisível
Cada vez mais, o homem se deixa dominar pela prepotência, pela soberba, pela arrogância, pela vaidade, pela materialidade e pelo egoísmo.
Para impressionar o ser humano, algo tem que ser palpável, visível, tem que ter peso, cor, medida, valor atribuído pela sociedade, pois assim ele aceita e mensura a importância das coisas.
Muitos lutam e trabalham para amealhar um patrimônio valioso e que se torna o objetivo de toda uma vida. Mas tem que ter visibilidade, para que todos conheçam e admirem a capacidade de quem se distingue dos demais. Esse patrimônio, muitas vezes, é obtido depois de muito suor e também de lágrimas, e pode se tornar a causa de disputas, conflitos e até de separação entre familiares, nos inventários.
Assim, é muito comum que todos ou quase todos busquem um patrimônio material.
Mas existe outro patrimônio, muito mais valioso, mas pouco entendido, que poucos enxergam: o patrimônio imaterial, invisível, que é a essência das coisas. “O essencial é invisível aos olhos”, nos ensinou o Pequeno Príncipe, num diálogo com a raposa que se consagrou como uma lição para aqueles que têm olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir. Nessa frase simples, mas de grande significado, se transmite uma lição profunda, ensinando que o mais importante são as atitudes e não a aparência, muitas vezes meramente estética.
Quando Antoine de Saint-Exupéry escreveu O Pequeno Príncipe, influenciando incontáveis gerações, ele levantou uma das mais importantes reflexões que se arrastaria ao longo dos tempos e que iria fazer com que a humanidade se indagasse sobre si mesma. Esta célebre frase abre uma importante reflexão acerca das diferenças entre a essência e a aparência. Existe enorme diferença, um abismo, enfim, uma profunda distância abissal entre “ver” e “enxergar”.
A reflexão da raposa propõe uma primazia do sentimento e da atitude sobre a mera aparência. Ao dar prioridade ao que vem do nosso interior, a raposa minimiza a importância daquilo que podemos ver, dando menos valor à forma física e mais valor ao que vai na alma, no espírito.
De uma forma sutil, ela faz uma crítica à sociedade, dizendo que os homens estão cada vez mais distantes uns dos outros e, como têm sempre pressa, não têm tempo para conhecer a fundo o que está ao seu redor.
Sócrates, o grande filósofo que há mais de 2.500 anos influenciou todo o pensamento ocidental com seus ensinamentos, já disse: “Nosce Te Ipsum” (Conhece-te a ti mesmo). Em entrevista concedida ao espírito de Humberto de Campos no plano espiritual, conforme registrado no livro Crônicas de Além Túmulo, psicografado por Chico Xavier, Sócrates enviou a seguinte mensagem: “Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos ali encarnados deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos”. A consciência é o início do caminho do despertar. Ou seja, essa consciência só será alcançada quando os homens acordarem para o verdadeiro significado do invisível e superarem as barreiras de nacionalidade, raça, religião, propriedade e política – que só servem para separar as pessoas, criando barreiras, às vezes, intransponíveis. Enquanto permanecerem presos a essas condições não terão a dimensão da eternidade, continuando com uma percepção horizontal a respeito de si mesmo e do mundo à sua volta. É preciso elevar os olhos acima de nós mesmos e alcançarmos uma perspectiva vertical.
Só assim, voltados para nossa própria essência, para a alma das coisas, encontraremos nossa libertação e evolução espiritual, que, na realidade, é a grande conquista que cada um deve alcançar.
Por último e muito mais importante, Deus é invisível aos nossos olhos mas presente em nossos corações.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 29 Outubro 2022 às 08:15 - em: Falando Nisso