Marco ASA (*)
A genial jogada de marketing do Boticário
Domingo presenciei uma cena emblemática em um desses hipermercados meio shopping de Campo Grande. Na porta de uma lojinha de O Boticário, duas senhoras, vestidas até os pés, com cabelo enormes, claramente evangélicas, faziam o sinal de negativo com a cabeça e comentavam entre si: “Eu gostava desses perfumes, mas, e a propaganda, com homem com homem e mulher com mulher é uma vergonha”, diziam elas, como se nunca mais entrassem naquele “antro de perdição”.
Lá dentro, uma mulher bem vestida, com seu cabelo que deve ter demorado horas pra arrumar em um salão onde a hora deve ser igual ao meu salário, saía com várias sacolas, feliz, como se cumprisse um dever cívico de combater o preconceito.
É isso que o pessoal de marketing do Boticário deve ter pensado na hora de criar a campanha onde casais de namorados diversos (inclusive homoafetivos) trocam presentes da rede, apenas com um abraço. Sem nada explícito, apenas um abraço.
A rede Boticário ganhou um marketing viral que a empresa nunca tinha visto antes. Estou escrevendo um artigo, citando a marca, de graça, assim como diversos sites, jornais, programas de TV etc. Tudo de graça. O custo da campanha já se pagou e a empresa entrou para o inconsciente coletivo, graças aos homofóbicos.
É a mesma estratégia que os pastores eletrônicos e políticos conservadores usam. Eles acordam todos os dias e pensam: “Que frase retrógrada vou usar hoje, utilizando o nome de Deus, para continuar na mídia?”. Eles fazem isso todos os dias, e estão sempre na mídia. Ontem mesmo, um pastor-político-dono-de-Cristo soltou uma frase depois da Parada Gay de São Paulo, onde uma moça foi vista crucificada (fantasia, gente): “Pode isso? Pode a Cristofobia?”, disse o pastor. Oras, a menina estava utilizando a mensagem de Cristo justamente para ironizar a crucificação que os evangélicos fazem com os gays diariamente. Aliás, o Cristo, como já disse, condenaria veementemente as atitudes, palavras e até a existência desses “vendeiros do templo”.
Mas, voltando ao Boticário, a empresa conseguiu atingir o subconsciente simpático de gente com a cabeça aberta, inteligente, que sabe ponderar e debater ideias, não “crucificar” e que, principalmente, tem grana para comprar. Além disso, virou a nova marca queridinha dos gays, público que gasta bilhões de dólares por ano com produtos cosméticos. Enfim, uma tacada de mestre, que agregou muito à marca, que passou para o lado legal da vida, onde ninguém condena ninguém, apenas vive e busca não fazer mal ao próximo.
(*Marco Antônio dos Santos Araújo, ou Marco ASA, é jornalista, publicitário e escritor, autor do livro “E Agora, Meu Deus?” e editor dos blogos Sirireporter e Autoasa. Contato: portalautoasa@gmail.com)
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Postado por: Marco ASA (*), 08 Junho 2015 às 12:00 - em: Falando Nisso