A diversidade de Mato Grosso do Sul Wagner Cordeiro Chagas (*)

A diversidade de Mato Grosso do Sul

Com as bênçãos de Deus, desde o final de dezembro de 2022 tenho percorrido, juntamente com minha esposa Ana Paula e as duas filhas (Ana Clara e Ana Luíza), várias cidades de nosso Mato Grosso do Sul com o objetivo de doar um livro a cada escola estadual, um projeto antigo que se tornou realidade após 7 anos de muita pesquisa e 2 anos de luta por patrocínios para publicar “Uma História Política de Mato Grosso do Sul” (Ed. Seriema/Dourados). Até o presente momento estivemos em 58 cidades e 25 distritos. O planejamento é até o início de 2024 chegarmos às 79 cidades. 
 
Ao longo desse percurso foram mais de 8 mil quilômetros rodados entre idas às cidades e retornos a nossa Fátima do Sul. Iniciamos as viagens no dia 21 de dezembro e a primeira foi a nossa cidade irmã Vicentina, de onde rumamos para Jateí, Glória de Dourados, Deodápolis, Angélica e Ivinhema. Em janeiro fomos à Douradina, Itaporã, Maracaju, Guia Lopes da Laguna, Jardim e Bonito, onde, além de visitar algumas belezas naturais de Bonito também respiramos um pouco de história ao lembrarmos que aquela é parte da rota de uma das batalhas da Guerra do Paraguai: a Retirada da Laguna, ocorrida em 1867. 
 
Também em janeiro estivemos em Dourados, Aral Moreira, Ponta Porã, Caarapó, Rio Brilhante, Nova Alvorada do Sul e Campo Grande, Nossa Capital é muito aconchegante com seu jeitão de interior onde a gente vê desde prédios luxuosos às belezas de parques naturais as suas araras que nos fazem esquecer por vezes o barulho dos motores e buzinas. Finalizamos aquele mês conhecendo Novo Horizonte do Sul, município que nasceu da luta pela reforma agrária na década de 1980 por meio de assentamento que beneficiou os brasiguaios. Uma história que merece um artigo a parte. 
 
Em abril nosso destino foi o extremo sul, na divisa com o Paraná e Paraguai: a região de Mundo Novo. Conhecemos a ponte Ayrton Sena, considera a terceira maior ponte do Brasil e que atravessa o majestoso rio Paraná e nos divide do estado que tem o mesmo nome. Em Japorã tivemos a honra de conhecer, pela primeira vez, uma escola estadual indígena na aldeia Porto Lindo, dos irmãos Guarani. Ao retornarmos passamos por Iguatemi e Eldorado; paramos na BR-163, no município de Itaquiraí, para fazermos uma selfie na placa do Trópico de Capricórnio, uma daquelas linhas imaginárias que se encontra nos mapas e que aprendemos a seu respeito nas aulas de Geografia. Passamos um pouco de medo ao pegarmos uma intensa chuva entre Juti e Naviraí, o que nos permitiu adquirir mais experiência nessas situações. 
 
No mês seguinte tivemos a honra de apresentar o livro aos estudantes, em sua maioria indígenas, do curso de História da UEMS de Amambai e ouvimos seus anseios enquanto estudantes de um curso superior e muitas das histórias de preconceito ainda terrível contra esses povos. De lá visitamos Coronel Sapucaia e Laguna Carapã. 
 
Em Sidrolândia, no feriado de junho, conhecemos uma cidade eclética, que homenageia os povos indígenas, passando pelo agronegócio ao líder Leonel Brizola, um dos políticos que deixou uma obra fantástica na educação dos estados que governou. Um exemplo, creio, de que é possível conviver com as diferenças de pensamento. Em meados daquele mês foi a vez de Nova Andradina, Taquarussu e Batayporã receber nossa visita. Como minha esposa e eu somos professores, nossas viagens são aos poucos. Em Nova Andradina rodamos 7 escolas estaduais e pudemos perceber as potencialidades daquela cidade e a influência que ela exerce naquela região. 
 
Nas férias escolares de julho partimos para a região norte, passando por Jaraguari e Bandeirantes  até chegamos até a divisa com Mato Grosso, em Sonora. De São Gabriel do Oeste até Pedro Gomes pudemos ver as belezas da serra de Maracaju, principalmente o nascer do sol atrás da mesma, em Rio Verde de Mato Grosso. Em Coxim acordamos às 6 horas da manhã com um tuiuiú a passear pelas margens do rio Taquari e a receber alguns peixes de café da manhã de um pescador que, ao que deduzimos, acostumou o pássaro a ir se alimentar às suas mãos. As proximidades com a região pantaneira permitem esse espetáculo. Ao mesmo tempo conhecemos o problema do assoreamento daquele rio e o quanto nós precisamos nos conscientizar e agir em relação à preservação ambiental. No retorno, entramos, via BR-060, em Camapuã, cidade rodeada por serra onde ainda existe a estrada velha, por onde os monçoeiros subiam, após navegarem pelos rios Pardo ou Anhanduí, até a antiga fazenda Camapuã, e de lá seguiam, via rios Coxim, Taquari e Paraguai até as minas de ouro de Cuiabá, lá no início do século XVIII. História essa responsável pela origem da capitania de Mato Grosso. 
 
No início de agosto, exercemos nossa folga pelo trabalho nas eleições passadas e continuamos a rodar MS. De Fátima do Sul seguimos pela região leste até chegar em Três Lagoas. Antes, estivemos em Anaurilândia e Bataguasssu, depois seguimos para Santa Rita do Pardo e Brasilândia, nesta última onde conhecemos a aldeia Ofaié, povo indígena que hoje deve estar em torno de 150 pessoas, conforme dados estatísticos, e que tem uma história de luta árdua pela retomada de parte de suas terras. De Três Lagoas seguimos pela BR-262, de intenso movimento devido às carretas que transportam eucalipto, uma marca daquele trecho, passando por Água Clara, Ribas do Rio Pardo até chegar a Campo Grande. Passamos por Terenos, Dois Irmãos do Buriti e terminamos o percurso em Anastácio e Aquidauana, os portais do Pantanal, onde conhecemos as belezas naturais de outra parte da serra de Maracaju, principalmente o trecho entre os distritos de Camisão, Piraputanga (ambos de Aquidauana) e Palmeiras (Dois Irmãos do Buriti). Ao longo do percurso pela BR-262 uma parte da história regional persegue o motorista, ora pelo lado esquerdo, ora pelo lado direito: a estrada de ferro da antiga Noroeste do Brasil. 
 
As últimas viagens se deram para Antônio João, Rochedo, Corguinho e Rio Negro, no feriado de setembro. A primeira cidade marcada pela histórica Colônia Militar dos Dourados, criada em 1856 pelo imperador D. Pedro II, com intuito de proteger essas terras das ambições do ditador paraguaio Solano Lopez que dizia pertencer a seu país parte dessas terras sul-mato-grossenses. Comandada pelo Tenente Antônio João Ribeiro, foi um dos primeiros locais invadidos pelo exército paraguaio, tendo o tenente como um dos mortos na defesa do local. As três últimas cidades têm história ligada à exploração de diamantes nos idos das décadas de 1940, 1950. 
 
Ainda faltam as regiões de Paranhos, Porto Murtinho, Corumbá, e todas as cidades entre Alcinópolis e Selvíria, totalizando 21 cidades para completarmos as 79. Contudo, essa aventura a que nos propusemos a fazer nos permitiu conhecer as belezas naturais, a diversidade populacional, as novas fases de desenvolvimento econômico por que passa o estado e também nos levaram à reflexão de que Mato Grosso do Sul precisa, além de se consolidar como uma nova fronteira de crescimento do país, como divulga o atual governador Eduardo Riedel, ser também um exemplo de superação das desigualdades sociais que vimos por várias partes do nosso querido estado. 
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD, Professor da rede pública em Mato Grosso do Sul e autor do livro “As eleições de 1982 em MS” - Life Editora)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 13 Outubro 2023 às 11:45 - em: Falando Nisso


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