Galvão (*)
A bela noite dos guarda-chuvas na sexta-feira 13
Quero registrar uma cena belíssima na Noite da Seresta que ocorreu no dia 13 de Janeiro desse ano, aqui em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, no centro-oeste do Brasil. Era uma sexta-feira chuvosa e durante o dia ficamos pensando que cancelariam o evento, porque a chuva não dava trégua e a meteorologia previa mais água pra aquela noite. A banda que iria se apresentar era “Os Pholhas”, um conjunto musical da década de 1970 que ficou muito famoso e que acalentou nossos romances (pra quem tem mais de 40 e tantos com eu) naquela época com baladas melosamente românticas, e em inglês, como a famosa My Mistake. Coincidentemente, no ano passado o show deles foi cancelado pelo mesmo motivo: o mal tempo. Mas à revelia do tempo, não foi anulada sua apresentação, nessa noite. Os organizadores não queriam isso, ninguém, nem muito menos o público ali presente.
Pra quem não sabe, todos os meses, na segunda sexta-feira, é realizada pela Fundação de Cultura do município, a Noite da Seresta em parceria com a Associação dos seresteiros presidida pelo cantor, advogado e outras cositas, Sílvio Lobo. Eu sou responsável pela banda que acompanha os seresteiros locais que fazem a abertura da atração de fora, na maioria das vezes, são artistas fora de catálogo, mas que ainda são uma brasa, mora? O importante dizer, que esse evento até certo ponto é muito nosso, ele não existe em Cuiabá, Teresina, Recife e nem em São Paulo e mesmo com todas as dificuldades já tem uma sobrevida de mais de oito anos de existência.
Desde as dezoito horas, daquela noite, havia uma garoazinha sobre a cidade morena, mas nada que atrapalhasse. Desde o começo da noite também já havia um público desejoso por música e animados na Praça do Rádio Clube, onde ocorre a Noite da Seresta. O clima estava delicioso. O carrinho de pipoca fumegava com cheirinho bom. Na esquia tinha o vendedor de cerveja no isopor, geladinha! E o dançarino vendedor de amendoim torrado circulava pra lá e pra cá com seu fogareiro. Logo daqui a pouco a praça estava cheia, não lotada, como nas noites de tempo bom, mas aconchegante. As pessoas presentes, pude notar, estavam impacientes pra que começasse logo, pediam música, gritavam e aplaudiam pra apressar o início da seresta. Devido a isso, houve poucas formalidades. Os apresentadores Sílvio e Marlene deram o sinal e começamos com a nossa música de abertura: “abram alas pra minha folia, já está chegando a hora!”. Depois que nós, artistas locais, terminamos nosso espetáculo, seria anunciado Os Pholhas, todavia exatamente nesse momento cai uma chuva forte. O pessoal do som fazia os últimos reajustes, enquanto os Os Pholhas já estava a postos, no palco pra entrar em cena.
Nesse momento uma imagem que muito me emocionou, eu olho, de cima do palco para o público e a praça está tomada de guarda-chuvas. Centenas de guarda-chuvas que eu até então nunca havia visto. Uma imensa lona de guarda-chuva. Uma cena lindíssima como que dizendo o show não pode parar, nunca! Não sei, mas penso que isso deu o combustível para o “Os Pholhas” fazer uma apresentação impecável de boa! E isso fica como uma deixa para os nossos promotores de eventos, Campo Grande, não é mais uma criança, cresceu, é uma moça viçosa. A cidade está ávida por eventos culturais e o mal tempo e a chuva não são mais desculpas pra se cancelar os shows, como nos tempos de outrora e uma anunciada sexta-feira treze pode ser adoravelmente sortuda.
(*Raimundo Edmário Guimarães Galvão é músico, jornalista e mora em Campo Grande. Contato galvaozim@gmail.com)
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Postado por: Galvão (*), 16 Janeiro 2012 às 13:31 - em: Falando Nisso