A arte de viver Heitor Freire (*)

A arte de viver

O ato de viver, com todas suas variações infinitas, exige de cada um de nós uma atenção constante sobre tudo que nos acontece, porque ninguém nasceu pronto e acabado. O aprendizado se desenvolve por toda a vida, pois quem acha que já fez a sua parte e pode descansar está cometendo um pecado contra si mesmo. 
 
A disposição para encontrar um significado na vida mostra claramente a necessidade do constante aperfeiçoamento, da busca do autoconhecimento como ferramenta indispensável para nossa evolução mental e espiritual.
 
Conhecer a si mesmo traz a excelência pelo viver, o cultivo da inteligência, a maturidade do juízo, a purificação da mente e do espírito, e também serve para mostrar que nunca chegaremos à plenitude, sempre falta algo, o que, necessariamente, não representa um desalento, mas, ao contrário, um incentivo para dar continuidade a essa busca interminável.
 
A busca da perfeição, embora muitas vezes seja inconsciente, revela o anseio de muitos, e entendo que não depende da revelação religiosa, mas dos recursos e diligência humanos: atenção, domínio das próprias emoções, autoconhecimento e outras formas de prudência, perseverança, discernimento, desapego, etc.
 
A amizade é uma forma agradável, não só de convivência, mas também de estímulo para o aprendizado, pois motiva os amigos a uma discussão que leve ao entendimento.
 
O trabalho que considero um dos fatores indispensáveis para a nossa evolução deve, naturalmente, ser visto como um meio e não como um fim, pois poderá tornar-se obsessivo, contrariando sua utilidade. Domenico de Masi, filósofo moderno e sempre atual, ensina que a idolatria do trabalho deve ter simultaneidade com o estudo e o lazer, orientando os indivíduos a intercalar a satisfação das necessidades com a introspecção, a amizade, o amor, as atividades lúdicas e a convivência.
 
Segundo Masi, “o ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício, preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossa potencialidade”.
 
Segundo ele, o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre e o estudo. Enfim o futuro é de quem souber exercitar o “ócio criativo”. Aliás esse é o título de um livro de sua autoria.
 
Nesse mesmo livro, cujo conteúdo é um verdadeiro manual de bem viver, De Masi cita uma frase de Aristóteles, que bem conceitua a sua filosofia: “A guerra deve ser em função da paz, a atividade em função do ócio, as coisas necessárias e úteis em função das belas”. Ou seja, desde aquela época, o ócio já era receitado como atividade útil.
 
Assim, essa arte maravilhosa que é viver deve observar o “dourado e abençoado caminho do meio”, preconizado no Baghavad Gitâ, para que as atividades tenham o seu contraponto no “dolce far niente”, que deve equilibrar o trabalho com o lazer. Isso foi escrito há mais de 4 mil anos.
 
Então, meus amigos, façamos da arte de viver um aprendizado constante, para nossa evolução mental e espiritual.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 01 Julho 2023 às 09:15 - em: Falando Nisso


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