Heitor Freire (*)
A arte da política
Desde o começo da humanidade o homem vem sendo contaminado por um vírus invisível, muito poderoso, que desde sempre domina seus atos, pensamentos, palavras e comportamentos. Ele prevalece de forma impressionante e sua longevidade é alimentada pelo próprio homem, per omnia saecula saeculorum: o vírus da discórdia.
Basta um olhar atento por toda a história. Sempre tem alguém traindo, matando, roubando, agredindo. E pelo que se observa em nosso planeta, isso está muito longe de acabar.
Para harmonizar as pessoas e mantê-las unidas, as mais diversas religiões vivem pregando o amor. Mas os filósofos, ao longo do tempo, estabeleceram a política como a ciência da comunicação humana, a fim de permitir uma relação harmoniosa entre as pessoas. É uma ciência que sempre mereceu atenção especial, pois seus fundamentos ensejam um sistema lógico, racional e social para que os homens convivam em harmonia e felicidade.
Para Aristóteles, a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se refere à felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis) e a política propriamente dita (que se dedica à felicidade coletiva).
A política, segundo Aristóteles, é essencialmente associada à moral. Isto porque a finalidade última do Estado é a virtude, ou seja, a formação moral das pessoas e o conjunto de meios necessários para que isso ocorra. Como faz falta esse ensinamento de Aristóteles para os nossos políticos.
Aristóteles, também, através de suas obras "Política" e "Ética a Nicômaco" esboçou um novo tipo de política, principalmente por suas ideias de participação popular e por defender que toda boa política deve visar sempre ao bem comum. Há de se dizer, também, que Aristóteles questionou as formas de governo de sua época, mostrando de maneira contundente suas falhas.
A sociedade política e suas instituições, para Sócrates, Platão e Aristóteles, têm uma função formativo-educativa, no sentido de que determinam a justiça ou a injustiça na sociedade e, principalmente, estabelecem que os valores dominantes serão os valores hegemônicos em termos de sociabilidade. Ou seja, o exemplo vem de cima, o líder tem que dar o exemplo.
Como vemos, ao longo da história, houve uma orientação prática no sentido de se exercer a política como a arte de governar, mas o homem sempre inverteu a ordem das coisas, governando para satisfazer seu ego, exercendo o poder para estabelecer um domínio sob seu comando, demonstrando claramente que na prática, a teoria é outra.
Na seara política, o escritor e dramaturgo Bertolt Brecht alertou para a necessidade da consciência de participação do cidadão:
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
Já o ex-presidente americano Ronald Reagan, arriscou uma anedota: “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga do mundo. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”.
Ao observar o comportamento dos políticos brasileiros nesta última eleição, ficou muito clara a falta de uma postura filosófica, pois preferiram atacar os adversários, procurando apontar falhas na vida um do outro, como se fossem eles próprios anjos imaculados, esquecendo-se de priorizar a divulgação seus planos de governo.
Quando será que irão aprender que essa prática não produz nenhum resultado, mesmo que se ganhe a eleição? A busca pelo poder a qualquer preço acaba gerando débitos que serão cobrados a tempo e hora, com juros e correção.
Outro ponto de distorção é o uso da religião como meio para ganhar votos, e se esquecem dos ensinamentos de Jesus, que expulsou os vendilhões do templo. Se viesse hoje, certamente Jesus expulsaria os candidatos dos programas “gratuitos” de televisão, pois o que ali se pratica contraria fundamentalmente seus ensinamentos.
Até quando continuarão alimentando esse vírus nefasto, que continua contagiando a grande maioria dos políticos? A atuação dos políticos contraria outra frase de Aristóteles: “O homem é um animal político porque a razão é essencialmente política”. Contudo, o que menos se vê hoje na política é o uso da razão.
E nós, como ficamos? A resposta cabe a cada cidadão e a cada cidadã.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 26 Outubro 2024 às 10:20 - em: Falando Nisso