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Ilustração de Andrei Marani
 
"Nesses tempos de muito verbo de advogado, procurador e juiz, todos fazendo uma grande discussão sobre protagonistas e verbas, abro a coluna com a seguinte historinha.
 
Cosme de Farias foi um grande advogado dos pobres da Bahia. Enveredou também pela política. Foi vereador e deputado estadual por muito tempo. E usava um bom verbo com sua verve. Vejam a historinha.
 
Um ladrão entrou na igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas. Cosme de Farias foi para o júri:
 
– Senhores jurados, não houve crime. Houve foi um milagre. Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa com fome e lhe deu o dinheiro, dizendo assim:
 
– Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro.
 
E ele levou. Que crime ele cometeu? Se houve um criminoso, o criminoso é o Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da igreja. Então vão buscá-lo agora lá e o ponham aqui no banco dos réus. E ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é? Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não impediu, é porque deixou. Se deixou, não há crime.
 
Cosme de Farias ganhou no verbo. E o réu foi absolvido por ter surrupiado a verba da paróquia."




Ilustração de Andrei Marani