Visitas alternadas ao apartamento do secretário municipal Semy Ferraz (Obras) neste sábado deixaram a imprensa de Campo Grande em polvorosa às vésperas da sessão da comissão processante da Câmara, prevista para quarta-feira, para julgar pedido de cassação do prefeito Alcides Bernal (PP). Um dos visitantes, o deputado federal Vander Loubet (PT), fez o seguinte diagnóstico: 
 
– "O paciente age como paciente demais que, diante de um caso grave, se recusa a tomar remédio". 
 
Para o deputado, o fato de o prefeito ter feito compromissos com vereadores pode ter aliviado momentâneamente os sintomas, mas não sanou o problema que, sem tratamento adequado prescrito, tende a se agravar. 
 
Foram citados os casos da nomeação de Jean Salita para comandar a Agetran, indicado pelo vereador Shimabukuro (PTB), e de Dirceu Peters, indicação de Paulo Pedra (PDT), para a Emha. Um dos companheiros visitantes, depois de sair do apartamento, comentou:
 
– "Ambos até hoje não puderam nomear nenhum auxiliar e ainda estão sob a fiscalização de pessoas ligadas ao prefeito, sem qualquer autonomia para gerir as agências de trânsito e de habitação". 
 
Existem ainda, revelou outra fonte visitante, questões ligadas ao Judiciário e acordos da época da votação do Orçamento na Câmara não cumpridos. Enquanto isso, o secretário de Governo, Pedro Chaves (que também esteve no apê), fica em má situação, sendo avalista das promessas e, embora seja o principal articulador político, chega a passar até dez dias sem poder despachar com o prefeito. 
 
Além dos supracitados, outras lideranças do PT e do PDT, da comitiva de visitantes, concordaram com o diagnóstico de Vander. Embora acreditem que o caso ainda não seja terminal, todos avaliam que a situação política se agrava a cada hora que passa. E lembraram que o prazo limite é cada vez mais curto.
 





Por Diego Escosteguy na revista Época:
 
"Trezentos metros separam o Palácio do Planalto da presidência do Supremo Tribunal Federal, ocupado hoje por Joaquim Benedito Barbosa Gomes, o herói do mensalão – o homem que muitos brasileiros gostariam de ver no outro lado da Praça dos Três Poderes. Seria uma travessia inédita na democracia brasileira. Do amplo gabinete espelhado da presidência do Supremo, no alto do Tribunal, os 300 metros se encolhem. É a ilusão que o poder em Brasília confere. Parece bastar um pulinho. Mas requer um salto suicida. Joaquim sabe disso. 
 
Por isso, resolveu: não será candidato a presidente da República em 2014. Numa tarde recente e chuvosa em Brasília, Joaquim recebeu, naquele mesmo gabinete, mais um curioso em saber, afinal, quais são seus planos para 2014. Joaquim não olhava a vista. Não tinha interesse. Olhava para os livros – como sempre fez. 
 
O interlocutor observou que Joaquim não teria aptidão para entrar na política, ainda mais depois de conhecer, no processo do mensalão, as sujas entranhas dos partidos brasileiros. Mesmo que entrasse depois. Mesmo que num cargo menor – se a Presidência está a 300 metros, o Congresso está a apenas 100.
 
´Acho difícil`, afirmou Joaquim. ´Não me vejo fazendo isso (entrando na política algum dia). O jogo da política é muito pesado, muito sujo. Estou só assistindo a essa movimentação.` E deu um sorriso malicioso, como quem quer fazer os adversários sofrer – leia-se, a turma do PT que o esculhamba diuturnamente – com a perspectiva de ter de enfrentá-lo nas eleições. ´Deixem falar… Deixa falar… Não serei candidato a presidente. Realmente eu não quero`, disse. ´É lançar-se, expor-se, a um apedrejamento.`
 





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