Vaga no TCE, renúncia à ética Marcos Alex de Azevedo Melo (*)

Vaga no TCE, renúncia à ética

Na manobra perpetrada pelo governador André Pucinelli, de a todo jeito e custo impelir a Assembléia Legislativa a renunciar ao direito natural e legal de indicar um nome da própria Casa para preencher no Tribunal de Contas a vaga deixada pela saudosa Celina Jallad, acumulam-se elementos que, pelo surrealismo da estratégia governamental, nos fornecem matéria-prima para algumas indagações e análises.

 
A Assembléia Legislativa abdica dessa vaga sob quais argumentos? Prevalece apenas a vontade pessoal do governador?
 
Certamente, os argumentos esgrimados por André nos bastidores dessa tórrida discussão formam em seu núcleo central a idéia de que o movimento tem o objetivo de compensar em termos pessoais a senadora Marisa Serrano e em termos coletivos e partidários o seu partido, o PSDB, pela lealdade e fidelidade demonstradas ao longo dos embates e das labutas eleitorais.
 
É como se da parte de outro postulante à vaga, o deputado republicano Antônio Carlos Arroyo, isso também não houvesse ocorrido. É possível imaginar e reconhecer que o atual governador teria muito mais dificuldades em seus desafios políticos e eleitorais se não tivesse o apoio de um Londres Machado, de um Arroyo, de um Paulo Corrêa, dos republicanos guaicurus em geral, tanto na disputa de 2006 contra Delcídio do Amaral quanto na de 2010 contra Zeca do PT. A dificuldade para se reeleger seria bem maior para André se o PR ficasse com Zeca na eleição passada, o que seria uma situação natural para forças políticas e partidárias que sempre cultivaram relações afetivas e de cooperação.
 
Se todos contribuíram para André alcançar seus objetivos, a razão assiste a postura dos republicanos e dos parlamentares de resistir à manobra de impor goela abaixo o nome de Marisa Serrano para a vaga do TCE. O que o governador pretende, como se vê, é acomodá-la, é desobstruir o caminho para ser entronizado candidato único do seu bloco atual de sustentação a uma das cadeiras de senador que serão disputadas em 2014. Então, para aplainar suas ambições políticas e pessoais, o títere se apropria de instrumentos que não lhe pertencem, paga dívidas velhas com saldo positivo de outros.
 
E tudo, doravante, tratando-se de construir novos espaços políticos, inclusive a futura vaga do Senado, o governador quer resolver agora em uma só tacada. Assim, procura desvencilhar-se de uma forte e presumível concorrente – a própria Marisa – e reduzir imensamente a necessidade de ter que dialogar com outras forças. Dessa forma, chegaria em 2014 em condição privilegiada, mesmo que isso custe amanhã a pública desmoralização da aliada que hoje quer homenagear, assim como ficarão humilhados o PSDB e o corpo representativo da Assembléia Legislativa.
 
Na questão do PSDB emerge agora uma situação esdrúxula, um verdadeiro atentando ao espírito republicano e democrático: pela primeira vez a sociedade local assiste a renúncia submissa e dócil de uma alta autoridade política, sem que nem a própria e nem os dirigentes de sua legenda contestem tal ato de oportunismo e de traição política cometida contra a população sul-mato-grossense.
 
É deprimente ver uma senadora de prestígio no alto clero congressual abrir mão do mandato e permitir rasteirices como a de seu primeiro suplente que, para “ganhar” a titularidade , não hesita em trocar de partido como se fosse de camisa e tudo isso passar incólume, sem o registro de qualquer protesto ou manifestação de inconformismo dos protagonistas dessa ópera bufa.
 
Marisa venceu Egon Krackekhe em 2006 com pequena margem de votos. E conquistou uma condição política de excelência, um mandato popular nobre. Afinal, num país de 190 milhões de habitantes, apenas 83 pessoas podem ocupar o Senado da República. Nessa proporção, agiganta-se a perplexidade das pessoas de bem diante de uma armação totalmente inaceitável, consentida e alimentada pelo acumpliciamento dos tucanos. Não se precipita e nem comete heresia quem, diante de tamanda aberração, perguntar: baseados em que princípio ético os tucanos de Mato Grosso do Sul vão pedir votos às pessoas de bem na próxima eleição?
 
É certo que no futuro o PSDB apresente outros nomes para disputar o Senado e, quem sabe, buscar alguém que substitua Marisa. No entanto, o processo em curso indica que, infelizmente, a política se descredibiliza e se desmoraliza com fatos como esse. E o PSDB, ao avalizar o batismo de uma sinecura, desvia-se da história respeitável que ajudou a escrever, com vibrante protagonismo, na construção da democracia brasileira. E, o que é pior, desrespeita a sociedade e o valor sagrado da escolha livre, do voto, da delegação máxima e soberana que um povo concede aos que deseja ter como seus legítimos representantes.
 
(*Marcos Alex de Azevedo Melo é historiador e vereador em Campo Grande pelo PT)


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Postado por: Marcos Alex de Azevedo Melo (*), 08 Junho 2011 às 14:11 - em: Falando Nisso


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